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Congresso inimigo do povo

 

Um ponto que merece ser observado nas manifestações do domingo (14/12/25) nas cidades brasileiras é a recorrência de um cartaz:

“Congresso inimigo do povo”.

Dá a impressão de um conceito capilarizado. Traduz a péssima imagem de deputados e senadores. A imagem de que estão se lixando para os eleitores. Legislam só por interesse próprio. Querem que “o povo se exploda”. O Congresso seria, assim, constituído de um bando de Justos Veríssimos, antigo e atualíssimo personagem do humorista Chico Anysio, líder do fictício, mas cada vez mais real, Partido Sinceramente Hipócrita – PSH.

Uma pesquisa do Ipespe, de setembro, apontou desaprovação da Câmara de Deputados por 70% dos eleitores e do Senado por 59%.

A lei que provocou as manifestações é uma semi- anistia envergonhada. Que não está na agenda das prioridades do país.

A segurança pública, essa sim, atormenta os brasileiros. Os deputados acenam com o endurecimento das condenações. Mas, na prática, aprovam esse projeto de dosimetria que representa redução das penas para crimes cometidos por eles mesmos. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) chegou a dizer que os deputados aprovaram essa geringonça sem ler. O Senado, depois, corrigiu uma aberração que estendia para outros tipos de crimes esse benefício de redução das penas.

Já tinha sido assim com a PEC da Blindagem, aprovada na Câmara e, depois da rejeição do público, sepultada no Senado. A polícia teria de pedir licença ao Congresso para investigar um deputado ou senador até por sequestro ou estupro. A Festa do Caqui. Parlamentares teriam licença para matar, como o 007.

Aí veio a Lei Antifacção. O relator, Guilherme Derrite, dublê de deputado e secretário de Segurança de São Paulo, apresentou meia dúzia de textos diferentes e contraditórios em menos de dois dias. Como assim? Um tema tão importante não mereceu discussões para amadurecimento?

Não. O objetivo da afobação era impedir investigações da Polícia Federal sem autorização do governador do estado. E quando a investigação focar o próprio governador ou um aliado político, pede autorização pro bispo?

O bolo da impunidade política, estaria pronto com esses projetos. Faltava a cereja. Ela veio, com a votação que manteve o mandato da agora ex-deputada Carla Zambelli.

Ficou claro que os deputados não leram nem a Constituição. A Carta determina suspensão automática de direitos políticos de condenados com trânsito em julgado. Mas as excelências não aprovaram cassar o mandato da mulher condenada pela contratação, com dinheiro público, de um hacker para invadir o Conselho Nacional de Justiça e imprimir documentos falsos. Se dependesse dos deputados, o país continuaria pagando o salário de uma deputada presa na Itália e com diretos políticos suspensos.   

Como se chega a esse quadro? Pela polarização. Temos votado, no Brasil, não como eleitores, mas sim como torcedores de futebol. No lugar da proposta de trabalho, a cor da camiseta. Pior: vale mais a rivalidade do que a simpatia.

Não gosto do Lula? Voto no deputado que xinga mais grosso no Instagram de “ladrão e descondenado”. Não gosto do Bolsonaro? Voto no senador que grita mais alto nas lives  “golpista e genocida”.

Enquanto isso, continua faltando segurança contra bandidos e enxurradas, energia elétrica, habitação, saúde, educação e até alimentação. Bem dizia o meu avô: “em casa em que falta pão, todos gritam e ninguém tem razão”.

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