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Crônica de Natal

 

É dezembro e eu quero porque quero escrever um texto de Natal. O Natal está no ar. Você respira Natal. Olha para cima, para a Estrela de Belém, e se enrosca aqui embaixo na barba branca de um Papai Noel.

A pressão consumista do meu dezembro vem acompanhada dessa quase obsessão. Quero uma crônica de Natal. Preciso de uma crônica de Natal. Sou um ser natalino. Um filho de Papai Noel. Sem a inspiração para essa crônica, sufoco, sinto falta de ar.

Não é uma ambição despropositada essa minha. Gostaria só de traduzir num texto esse momento único em que a  generosidade consegue quebrar o predomínio do egoísmo onipresente nas outras estações do ano.

Mas onde procurar os elementos desse texto nessa enxurrada de panetones, nozes, castanhas e embrulhos de presente multicoloridos? Nas lembranças da infância? Nos filmes de final feliz que se multiplicam nas sessões da tarde? Nas músicas? Na imagem do sorriso de uma criança na hora de abrir um presente tão esperado e tão inesperado que vem de uma doação?

No meio disso tudo, sobra algum neurônio pra lembrar que o Natal celebra o aniversário do nascimento de Jesus Cristo? Verdade que nem o dia, nem o mês, nem o ano estão corretos. Pelos estudos dos cientistas, Jesus nasceu em março ou abril do ano 6, 5 ou 4 antes dele mesmo. O 25 de dezembro do ano 1 foi adotado no século 4.

Nessa data, celebrava-se a vitória da luz sobre a escuridão. Solstício de inverno. Noite mais longa e dia mais curto do ano no Hemisfério Norte. A partir daí o Sol Invicto voltava – e ainda volta, mesmo com todas as mudanças climáticas – a aumentar a duração dos dias e a reduzir o período das noites.

Com a escolha do 25/12 como data de nascimento de Jesus, o cristianismo se apropriou da força e da tradição dessa festa pagã da natalidade.

Mas tem sentido. Jesus também trouxe luz. Outro tipo de luz. Uma luz que brotou em Belém, em Nazaré, no Mar da Galileia e que ilumina há mais de dois mil anos o planeta. Usando apenas palavras e sabedoria luminosa, Cristo dividiu a história em duas fases: antes e depois dele.

É evidente que um texto de Natal deva falar de Jesus. Das histórias dele. Dessa luz com que ele ilumina o caminho que só o amor escancara para a evolução de cada espírito

Não sei se no passado tive a bênção de respirar o ar dos lugares por onde Jesus passava, a atmosfera que os reis Magos e os apóstolos respiraram.

Mas me imagino na multidão que ouviu o Sermão da Montanha. Ali Jesus explica que quem sofre é bem-aventurado porque se depura para um futuro mais radioso no mundo espiritual. E me vejo entre os doutores da lei, desafiado, se não tivesse pecado, a atirar a primeira pedra na mulher adúltera. Uma das muitas histórias bonitas do Evangelho.

Que diria Jesus, neste século 21, aqui no Brasil, ao ver que as mulheres não precisam ser adúlteras para morrer não mais apedrejadas, mas sim arrastadas por automóveis, agredidas em elevadores, esfaqueadas, alvejadas, estupradas…

É muito ódio justamente onde mais devia haver amor !!!

E de repente percebo que cada um de nós tem sim, no céu de cada Natal, uma Estrela de Belém. Trata-se de um mandamento simples em que o aniversariante Jesus resumiu “toda a lei e os profetas”:

“Ama a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo”.

É esse amor que brota das lembranças dos natais da infância, dos filmes de Natal, das músicas, do sorriso da criança que abre o presente tão esperado e tão inesperado.

É esse amor a estrela-guia que pode, depois, orientar a nossa rota em todos os dias do ano.

É justamente esse amor que eu queria tanto traduzir na minha crônica de Natal.

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