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Uma pesquisa Datafolha divulgada nesta semana ajuda a desenhar o cenário político brasileiro após a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro e indica um momento de forte desgaste de sua imagem, além de incerteza dentro do campo da direita para a eleição presidencial de 2026.
O levantamento foi realizado entre os dias 2 e 4 de dezembro, com 2.002 entrevistas presenciais em 113 cidades do país, e tem margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
Fuga ou surto?
Um dos pontos centrais da pesquisa foi a repercussão do episódio em que Bolsonaro danificou a tornozeleira eletrônica utilizando um ferro de solda, o que levou o Supremo Tribunal Federal a converter sua prisão domiciliar em prisão preventiva.
De acordo com o Datafolha, 54% dos entrevistados acreditam que Bolsonaro tentou ou se preparava para fugir ao mexer no equipamento eletrônico de monitoramento. Já 33% dizem concordar com a versão apresentada pela defesa e por aliados, de que o ex-presidente sofreu um surto psicológico durante a madrugada. Outros 13% afirmaram não saber opinar.
O resultado mostra que, no conjunto do eleitorado, a interpretação de que houve intenção de fuga é majoritária, superando com folga a versão de que o episódio foi causado por instabilidade emocional. O tema aparece como um divisor de narrativas, mas com ampla vantagem para a leitura mais crítica ao ex-presidente.
A pesquisa também revela que a percepção muda de acordo com o perfil do eleitor. Entre os entrevistados que disseram ter votado em Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno de 2022, a maioria considera que Bolsonaro pretendia fugir. Já entre eleitores que afirmam ter votado em Bolsonaro, prevalece a interpretação de que o episódio foi um surto psicológico.
Em regiões como o Nordeste, a avaliação negativa é ainda mais forte, com uma proporção maior de entrevistados enxergando tentativa de fuga. O dado reforça a ideia de que o episódio da tornozeleira aprofundou a rejeição ao ex-presidente em áreas onde ele já enfrentava maior resistência eleitoral.
Rejeição ao indicado
Outro eixo importante do levantamento é o peso político do apoio de Jair Bolsonaro. Para o Datafolha, 50% dos brasileiros afirmam que não votariam de forma alguma em um candidato apoiado por Bolsonaro. Já 26% dizem que com certeza votariam em um nome indicado por ele, enquanto 21% afirmam que talvez votassem.
O resultado indica que o ex-presidente ainda mantém uma base fiel, mas que sua rejeição hoje supera o potencial de transferência de votos, tornando seu apoio mais um risco do que um trunfo eleitoral em muitos cenários.
Apoio em 2026
A pesquisa também perguntou aos entrevistados quem Jair Bolsonaro deveria apoiar como candidato à Presidência da República em 2026. Os números mostram fragmentação e ausência de um nome dominante dentro do campo bolsonarista.
- Michelle Bolsonaro lidera, com 22% das menções
- Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, aparece logo atrás, com 20%
- Ratinho Jr., governador do Paraná, é citado por 12%
- Eduardo Bolsonaro soma 9%
- Flávio Bolsonaro é citado por apenas 8% dos entrevistados
O dado chama atenção especialmente porque Flávio Bolsonaro foi recentemente apresentado pelo pai como seu candidato preferido, mas amarga o índice mais baixo entre os nomes da família. Para analistas citados pelos principais veículos, o resultado reforça a dificuldade de Bolsonaro em “escolher um sucessor” de forma clara e consensual.
Lula lidera cenários de segundo turno
O levantamento também testou cenários de segundo turno entre Lula e possíveis candidatos ligados ao bolsonarismo. Em todos os cenários avaliados, Lula aparece em vantagem, com maior folga contra Flávio e Eduardo Bolsonaro e uma disputa mais apertada contra Tarcísio de Freitas e Michelle Bolsonaro.
Os números reforçam a avaliação de analistas políticos de que, neste momento, não existe um nome consolidado da direita capaz de reproduzir o capital eleitoral que Bolsonaro teve em 2018 e 2022.
