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Alguns edifícios antigos espalhados pelo Brasil ainda guardam marcas da Segunda Guerra Mundial. Em seus subsolos, muitos prédios antigos do Rio de Janeiro, Santos, São Vicente, São Paulo e Natal possuem estruturas conhecidas como bunkers ou abrigos antiaéreos — locais projetados para proteger moradores de bombardeios, caso o país fosse atacado durante o conflito. Eram espaços reforçados, escondidos, construídos numa época em que o medo vinha do céu.

Quase um século depois, esse tipo de estrutura volta a ganhar espaço no debate nacional, mas agora o inimigo é outro.
Em Santa Catarina, o governo estadual decidiu construir abrigos anti-desastres — também chamados de salas seguras — dentro das escolas públicas, após sucessivos tornados atingirem a região Oeste do estado.

A medida ganhou urgência depois que uma escola quase se tornou palco de uma tragédia.

O primeiro abrigo anti-desastres será na Escola Jacob Maran

O primeiro abrigo será instalado na Escola de Educação Básica Jacob Maran, no distrito de Jorge Lacerda, em Dionísio Cerqueira. A unidade teve parte do prédio completamente destruída pela passagem de um tornado e está sendo reconstruída praticamente do zero. O governo transformou essa obra em projeto-piloto, que deve servir de modelo para outras regiões vulneráveis.

Tornados no Oeste aceleram o plano

No mesmo dia em que a Jacob Maran foi atingida, outros dois tornados foram confirmados em Xanxerê e Faxinal dos Guedes. Os ventos, que ultrapassaram 100 km/h, derrubaram árvores, destelharam casas, danificaram prédios públicos e deixaram moradores desalojados.

Horas antes do desastre, os alunos estavam no intervalo.
As imagens feitas logo após a passagem do tornado mostraram salas destruídas, telhados retorcidos e destroços espalhados pelo pátio. A sensação geral foi de que a tragédia poderia ter sido muito maior — e foi exatamente esse risco iminente que levou o governo a agir.

Como serão os abrigos anti-desastres nas escolas

Apesar da referência aos antigos bunkers, as estruturas anunciadas por Santa Catarina não serão subterrâneas. A proposta é criar salas seguras integradas ao cotidiano escolar, funcionando normalmente como:

  • biblioteca,
  • sala multiuso,
  • laboratório,
  • espaço pedagógico.

Mas, durante uma emergência climática, esses ambientes poderão ser usados como pontos imediatos de proteção.

Essas salas devem contar com:

  • paredes e cobertura reforçadas, capazes de resistir a ventos intensos e impactos de destroços;
  • estrutura de drenagem e ventilação, para evitar alagamentos e permitir permanência segura;
  • acesso facilitado, para que crianças e funcionários cheguem rapidamente ao local em caso de alerta.

O governo também informou que o padrão de “sala segura” será incorporado tanto a reformas já previstas quanto às novas escolas construídas pelo estado.

Onde os novos abrigos devem ser instalados primeiro

Por enquanto, apenas a Jacob Maran (foto) tem o abrigo garantido. Outras escolas do Extremo Oeste, também danificadas por temporais, estão sendo analisadas para receber o mesmo reforço estrutural.

Não há cronograma fechado nem quantidade definida de escolas contempladas. O governo apenas afirmou que dará prioridade às regiões com maior histórico de tornados e tempestades severas.

Críticas e questionamentos

A iniciativa gerou repercussão positiva entre moradores, mas também levantou dúvidas entre especialistas e parlamentares:

  • Falta de detalhamento técnico: ainda não foi divulgado o projeto completo com parâmetros de segurança, capacidade e rotas de evacuação.

  • Escolha de prioridades: algumas escolas enfrentam problemas básicos — infiltração, falta de laje, quadra, laboratórios — e críticos questionam se o investimento mais urgente deveria ser em abrigos.

  • Gestão de alertas: profissionais da área lembram que, em casos de risco elevado, o mais seguro ainda é suspender aulas com antecedência, evitando manter centenas de alunos reunidos em um único espaço.

Também houve questionamentos sobre o fato de a escola destruída por tornado não ter tido aulas suspensas, mesmo com alertas emitidos pela Defesa Civil.

Aumento dos eventos extremos no Sul

O debate sobre os abrigos escolares surge em um momento em que o Sul do Brasil enfrenta um aumento notável de eventos climáticos severos. Nos últimos meses, a região registrou:

  • um tornado de alta intensidade no Paraná,
  • vários tornados no Oeste catarinense,
  • tempestades com ventos extremos nas áreas de fronteira.

Meteorologistas destacam que fatores como aquecimento da superfície, relevo e frentes frias mais intensas favorecem a formação de nuvens violentas, capazes de gerar tornados com maior frequência.

Por isso, especialistas apontam que as salas seguras devem ser apenas uma parte de um conjunto maior de medidas, que inclua:

  • sistemas de alerta antecipado realmente eficientes;
  • protocolos claros para suspender aulas;
  • revisão estrutural de prédios vulneráveis;
  • treinamento de alunos e funcionários;
  • integração direta entre Secretaria de Educação e Defesa Civil.

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