Em meio à circulação de boatos sobre um suposto surto de meningite no litoral paulista, o secretário de Saúde de Guarujá, Dr. Fábio Mesquita, trouxe esclarecimentos exclusivos sobre o cenário real da doença no município e na Baixada Santista. Epidemiologista, doutor em Saúde Pública pela USP, ex-diretor nacional de programas do Ministério da Saúde e ex-vice-representante da Organização Mundial da Saúde (OMS), Mesquita reforçou que não há surto e que a situação está controlada e dentro da normalidade histórica.
Em entrevista exclusiva realizada nesta sábado (15) na UPA Dr. Matheus Santamaria (PAM Rodoviária), o secretário foi enfático:
“Não, Guarujá não vive um surto de meningite. Estamos com números normais, inclusive inferiores aos de 2024. Um surto só é declarado quando os casos fogem completamente do padrão — e não é o caso.”
Segundo ele, até novembro de 2025 o município registrou 16 casos confirmados, contra 26 no ano passado.
Em relação aos óbitos, foram 2 mortes este ano, número muito abaixo dos 7 registrados em 2024.
“Temos 70% menos mortes em relação ao ano passado. A situação está completamente dentro da normalidade.”
Panorama da Baixada Santista
A Baixada Santista também não apresenta um quadro fora da curva. A região registra entre 70 e 80 casos de meningite em 2025 (dependendo da data de fechamento de cada boletim). O número de óbitos está em torno de 11 mortes na Baixada inteira — não em um único município. Os registros não são maiores que os dos últimos anos e não caracterizam surto regional. Mesquita confirma a mesma leitura técnica:
“Comparamos 2021, 2022, 2023, 2024 e agora 2025. Não há nenhuma cidade da região que tenha saído da curva. O quadro geral da Baixada está até um pouco melhor do que no ano passado.”
Suspeitas, confirmações e o caso em investigação
Sobre o caso que ganhou grande repercussão nas redes sociais — a morte de um bebê após atendimento emergencial — o secretário explicou que ainda há investigação em andamento.
“Para confirmar meningite bacteriana não existe teste rápido. Não tem ‘teste de farmácia’, nem teste de UPA. O diagnóstico é feito pelo quadro clínico e pela análise do líquor. No caso em investigação, não foi possível colher o líquor devido à condição da criança.”
Ele reforça que o exame está sendo processado no Instituto Adolfo Lutz e pode levar até 10 dias.
Escolas e creches: o que realmente ocorreu
As redes sociais sugeriram casos múltiplos na mesma creche, mas o secretário esclareceu:
“Não tivemos casos acumulados de meningite bacteriana em nenhuma creche. O que houve foi um caso de meningite viral — que não tem relação com a forma bacteriana — e que não ofereceu risco às outras crianças.”
Já em uma escola municipal, houve um caso confirmado de meningite bacteriana.
“Seguimos exatamente o que determinam o Ministério da Saúde e a OMS: tratamos com antibiótico todos os alunos da sala e todos os professores que tiveram contato direto. É o protocolo padrão.”
Sintomas: o que é importante saber
Para orientar os pais, Mesquita reforçou sinais que merecem atenção. A forma bacteriana, que é a mais preocupante, costuma apresentar:
- Febre alta repentina;
- Dor de cabeça intensa;
- Pescoço rígido ou dor ao tentar movimentar;
- Vômitos;
- Sonolência, irritabilidade ou confusão mental;
- Em bebês, choro persistente e dificuldade de alimentação.
“Quando a meningite já está instalada, a criança apresenta sinais neurológicos. É isso que orienta o médico a fazer o exame de líquor, que é o padrão-ouro para diagnóstico.”
Vacinação: o ponto mais decisivo
A maior preocupação da Secretaria não é o número de casos, mas sim a baixa cobertura vacinal, apesar de uma melhora em 2025.
“A forma mais importante de prevenção é a vacinação. Nossa cobertura está em 86%, mas o ideal é chegar a 95%. Não adianta reclamar de meningite se a criança não estiver protegida.”
Ele lembrou que o município publicou decreto tornando obrigatória a apresentação da carteirinha de vacinação para matrícula e rematrícula na rede municipal, conforme previsto pelo ECA.
“Temos 21 unidades vacinando: UBS e USAFAs. A vacina está disponível perto da casa de todo mundo.”
Apesar da preocupação gerada por boatos, Mesquita afirma que o cotidiano da cidade não precisa mudar:
“Pode seguir a vida com tranquilidade. Se houvesse qualquer indício de surto ou epidemia, tomaríamos medidas adicionais. Mas não é o caso. A situação está equilibrada e é acompanhada por nós, pelo Estado e pelo Ministério da Saúde.”
Responsabilidade na informação
Antes de encerrar, o secretário fez um pedido:
“Não dá para espalhar fake news dizendo que estamos numa crise ou epidemia. Estamos tratando o assunto com seriedade. Nosso compromisso é com a informação correta.”
