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Da automação portuária à regulamentação nas ruas, o país dá os primeiros passos rumo à mobilidade inteligente

Por William Araújo – Coluna de Tecnologia | ISN

 

Os caminhões autônomos já não são mais um conceito distante no Brasil. Em Aracruz (ES), o Portocel se tornou o primeiro porto do país a utilizar, de forma plena, um veículo autônomo para movimentação de celulose. O projeto é resultado de uma parceria entre a startup Lume Robotics, a VIX Logística e o próprio terminal, com apoio da Finep, agência federal de fomento à inovação.

A tecnologia — de nível 4 de automação — permite que o caminhão opere sem motorista dentro do porto, tomando decisões de rota e segurança por conta própria. O veículo é equipado com inteligência artificial, sensores, câmeras e sistemas de mapeamento 3D. Tudo é monitorado à distância, com o objetivo de aumentar a eficiência e reduzir riscos para os trabalhadores.

O investimento inicial é alto, mas o ganho em produtividade e segurança tem chamado atenção de outras empresas do setor. A Suzano, por exemplo, já anunciou testes com caminhões elétricos autônomos sem cabine — os primeiros da América Latina —, também com participação da Lume Robotics.

Especialistas apontam que o uso de veículos autônomos em ambientes controlados, como portos e terminais, pode reduzir custos operacionais em até 30%. O ganho vem da menor necessidade de mão de obra direta, da redução de acidentes e da previsibilidade das operações.

Por outro lado, o investimento em tecnologia é pesado. Sistemas de IA, sensores, infraestrutura de rede e manutenção elevam o custo inicial — algo que só se paga com o tempo e com o aumento da escala de operação. A diferença é que, no Brasil, parte desses investimentos tem apoio público, como o da Finep, o que ajuda a impulsionar os projetos.

Nos Estados Unidos, o uso de caminhões autônomos já entrou em fase de operação comercial em alguns portos e rodovias. O Long Beach Container Terminal (LBCT), na Califórnia, é o primeiro porto totalmente automatizado do país e serve de modelo para o mundo.

Lá, praticamente todas as operações são controladas à distância. Um pequeno grupo de operadores trabalha em salas de controle, enquanto os veículos elétricos autônomos fazem o transporte de contêineres de forma contínua. Segundo dados de mercado, a automação reduziu em até 35% os custos logísticos e aumentou a produtividade em torno de 20%.

Mas a mudança não veio sem resistência. Sindicatos portuários norte-americanos têm travado uma batalha para conter a substituição de trabalhadores por sistemas automatizados. Esse embate tem desacelerado a expansão da automação em outros terminais dos EUA.

Enquanto a automação transforma o ambiente portuário, outro debate começa a ganhar corpo: o dos carros autônomos nas ruas brasileiras. A Comissão de Viação e Transportes da Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei 1.317/2023, que cria regras para o uso e os testes desses veículos no país.

O texto propõe mudanças no Código de Trânsito Brasileiro, abordando desde autorizações para testes até a responsabilidade em caso de acidentes. Ainda falta aprovação no Senado, mas o tema já desperta o interesse de montadoras e empresas de tecnologia.

Hoje, o que existe no mercado nacional são veículos com níveis 1 e 2 de automação — ou seja, com sistemas de auxílio, como piloto automático adaptativo e correção de faixa. Para atingir níveis mais avançados, será necessário investir em infraestrutura viária e ampliar a cobertura de 5G, essencial para a comunicação entre os veículos e o ambiente.

Entre os benefícios, estão a redução de acidentes, maior eficiência no trânsito e menor emissão de poluentes, especialmente com o uso de veículos elétricos. Do outro lado, há desafios significativos: alto custo de implantação, incertezas jurídicas sobre responsabilidade em acidentes e o impacto social da substituição de motoristas humanos.

Apesar disso, o avanço da automação parece irreversível. No Brasil, o movimento começa nos portos, mas o horizonte aponta para rodovias e centros urbanos. A combinação de inovação, investimento e regulamentação será decisiva para determinar o ritmo dessa transição.

O Brasil ainda está nos primeiros quilômetros dessa jornada tecnológica, mas já dá sinais de que quer ocupar um papel de destaque. A automação portuária de Aracruz mostra que o país é capaz de inovar, enquanto o debate sobre os veículos autônomos reforça a necessidade de preparar as cidades para o que vem pela frente.

Assim como aconteceu com os portos americanos, a adoção dessas tecnologias exigirá diálogo entre governo, empresas e trabalhadores — afinal, a inteligência pode ser artificial, mas as decisões que moldarão o futuro são bem humanas.

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