Tarifas nos EUA: consumidores começam a sentir impactos crescentes dos custos

Tarifas nos EUA: consumidores começam a sentir impactos crescentes dos custos

Compartilhe

Apesar das alegações de que empresas estrangeiras e governos estariam suportando o peso das tarifas comerciais dos Estados Unidos, estudos e dados recentes indicam que os consumidores e as empresas americanas são os principais afetados por essa política. As tarifas, que voltaram a ganhar força como instrumento estratégico desde a gestão de Donald Trump, estão gerando aumentos graduais nos preços de produtos importados e nacionais.

Os preços de importação, excluindo taxas de transporte e seguros, permaneceram praticamente estáveis desde a adoção das novas tarifas. Esse comportamento do mercado desmente a hipótese de que exportadores estariam reduzindo seus preços para compensar as tarifas. Especialistas apontam que a queda acentuada nas importações no segundo trimestre não foi suficiente para provocar uma redução significativa nos preços, indicando uma rigidez maior na cadeia de valores.

Embora haja uma leve redução nos preços de importação de produtos chineses, o padrão não se repete na maioria dos outros países, cujos preços continuam constantes. Com isso, empresas americanas enfrentam o dilema de absorver os custos ou repassá-los ao consumidor final. Estimativas de agosto apontam que os consumidores já absorviam 22% do impacto das tarifas, com projeções indicando que essa carga pode subir para até 67% em outubro.

Pesquisas indicam que esse repasse tende a crescer com o tempo, podendo atingir 100% quando considerados os efeitos indiretos, como o reajuste de preços por parte dos produtores nacionais que aproveitam o novo cenário para ajustar margens.

Alguns fatores retardaram os aumentos imediatos, como estoques abastecidos antes das tarifas, distribuição dos custos ao longo da cadeia de suprimentos e isenções temporárias. No entanto, sinais de elevação nos preços de móveis, roupas de cama, ferramentas e brinquedos começam a aparecer em índices oficiais, com os produtos importados custando até 5% a mais que o esperado sem as tarifas.

Empresas consultadas por bancos centrais e instituições financeiras projetam reajustes médios de preços de até 3,5% ao longo do próximo ano, refletindo os efeitos cumulativos das tarifas sobre seus custos operacionais. O fenômeno não se limita a setores industriais: prestadoras de serviços também sinalizam aumentos, o que levanta preocupações sobre um eventual espalhamento inflacionário, semelhante ao observado durante o período da pandemia.

Para consumidores de baixa renda, o impacto tende a ser mais severo. Especialistas alertam que mesmo aumentos graduais representam desafios significativos para famílias que vivem com orçamentos apertados. Estratégias como deixar de comprar determinados itens, atrasar contas ou priorizar despesas essenciais tornam-se comuns em contextos de pressão inflacionária sutil, porém constante.

Varejistas, por sua vez, vêm adotando estratégias como o repasse de custos em pequenos incrementos, uma tática que dificulta a percepção imediata por parte do consumidor — fenômeno conhecido como “sneakflation”. A medida busca preservar o volume de vendas e minimizar reações negativas do mercado, mesmo diante do aumento contínuo de despesas operacionais.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *