A Polícia Federal divulgou nesta quarta-feira (20) um relatório que revela novas camadas das investigações contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Segundo o documento, os dois atuaram para coagir ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e obstruir o processo que apura a tentativa de golpe de Estado, com apoio do pastor Silas Malafaia.
Entre os materiais apreendidos pela PF estão áudios e mensagens que indicam o envolvimento de Bolsonaro com o advogado Martin De Luca, ligado à Trump Media & Technology Group e à plataforma Rumble. Em uma gravação, Bolsonaro pede que De Luca o oriente sobre como comunicar um agradecimento ao ex-presidente dos EUA, Donald Trump, em meio ao que chamou de “tarifaço” americano contra o Brasil. O ex-presidente também elogia Trump e diz que “a questão da liberdade está muito acima da questão econômica”.
Para a Polícia Federal, a fala revela não apenas alinhamento com interesses externos, mas uma tentativa de influenciar o cenário político brasileiro por meio de apoio internacional. O relatório sugere que a atuação de Bolsonaro com aliados de Trump tinha como objetivo pressionar autoridades brasileiras, inclusive do Supremo.
A investigação também expõe divergências entre Jair e Eduardo Bolsonaro. Em mensagens recuperadas, Eduardo se irrita com declarações do pai à imprensa sobre o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), e responde com ofensas. Em outro trecho, admite que a articulação com Trump buscava evitar a condenação de Jair Bolsonaro no processo do golpe.
Além disso, foi encontrado no celular do ex-presidente um rascunho de pedido de asilo político endereçado ao presidente da Argentina, Javier Milei. No texto, Bolsonaro alega perseguição política e solicita análise urgente. A defesa do ex-presidente confirmou a existência do rascunho, datado de fevereiro de 2024, mas afirma que a proposta foi descartada.
A PF aponta que as ações de Bolsonaro, Eduardo e Silas Malafaia configuram uma tentativa deliberada de coação institucional e interferência no Judiciário, por meio de discursos e publicações voltados ao público nacional e internacional.
A investigação segue em curso no Supremo Tribunal Federal, sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes.