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Uma decisão da Justiça do Maranhão colocou Turilândia, município do interior do estado com pouco mais de 30 mil habitantes, no centro de um dos maiores escândalos políticos recentes do Maranhão. A cidade, criada oficialmente há pouco mais de 30 anos, teve prefeito, vice-prefeita, ex-vice-prefeita, primeira-dama, vereadores, contador da prefeitura e operadores financeiros presos ou alvos de medidas cautelares em uma operação que investiga um esquema de corrupção estimado em mais de R$ 56 milhões.
A ordem judicial foi assinada pela Maria da Graça Peres Soares Amorim, do Tribunal de Justiça do Maranhão, a pedido do Ministério Público do Maranhão, por meio do Gaeco. A operação recebeu o nome de Operação Tântalo II, desdobramento de uma investigação iniciada anos antes e aprofundada ao longo de aproximadamente quatro anos.
Uma investigação longa e silenciosa
Segundo o Ministério Público, as investigações começaram ainda em 2021, após indícios de irregularidades em contratos firmados pela prefeitura, especialmente nas áreas de saúde, assistência social e fornecimento de combustível. Com o avanço das apurações, promotores identificaram um padrão repetitivo de fraudes, envolvendo empresas contratadas, emissão de notas fiscais sem prestação real de serviços e retorno financeiro a agentes públicos.
Relatórios financeiros, quebras de sigilo bancário e fiscal, além de análises de contratos administrativos, revelaram um modelo estruturado de desvio de recursos, operando de forma contínua dentro da administração municipal.
Organização Criminosa
Na decisão que autorizou as prisões e medidas cautelares, a desembargadora destacou que havia fortes indícios da existência de uma organização criminosa, com divisão clara de funções, permanência ao longo do tempo e atuação coordenada entre membros do Executivo, do Legislativo e operadores externos.
A magistrada citou risco concreto de:
- continuidade dos crimes, caso os investigados permanecessem livres
- interferência nas investigações, especialmente pela posição de poder dos envolvidos
- ocultação e destruição de provas
Por esses motivos, foram decretadas prisões preventivas para integrantes do núcleo central do esquema e, no caso dos vereadores, a conversão das prisões em domiciliar com uso de tornozeleira eletrônica, permitindo deslocamento controlado apenas para atividades parlamentares, a fim de evitar a paralisação total da Câmara Municipal.
Alvos da Operação
Entre os principais alvos da operação estão:
- prefeito e vice-prefeita de Turilândia
- ex-vice-prefeita
- primeira-dama do município
- vereadores
- contador da prefeitura
- empresários e operadores financeiros, apontados como responsáveis por movimentar e ocultar recursos desviados
Ao todo, 14 pessoas chegaram a ser presas, enquanto outros investigados permanecem sob medidas cautelares ou são considerados foragidos.
O posto de milhões
Um dos pontos centrais da investigação envolve o Posto Turi, localizado na avenida principal da cidade. Oficialmente, o posto prestava serviço de abastecimento da frota municipal. No entanto, segundo o Ministério Público, a empresa recebeu mais de R$ 17 milhões em contratos, valor considerado incompatível com o consumo real de veículos da prefeitura.
As investigações indicam que parte significativa desse dinheiro não correspondia a combustível efetivamente fornecido, sendo utilizada para:
- justificar saídas irregulares de dinheiro público
- bancar despesas pessoais de integrantes do grupo político
- devolver recursos ao núcleo do esquema
Para o MP, o posto funcionava como uma das principais engrenagens de escoamento e lavagem de dinheiro.
Dinheiro, empréstimos e lavagem
Outro ponto destacado no processo é a suspeita de envolvimento de um médico neurocirurgião, apontado como alguém que teria emprestado grandes somas em dinheiro a integrantes do grupo investigado. As movimentações, que teriam chegado à casa dos milhões de reais, levantaram suspeitas de lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio, ampliando o alcance da investigação para além do poder público municipal.
Quem assume a prefeitura
Com a prisão do prefeito e da vice-prefeita, a linha sucessória prevista em lei levou à posse interina do presidente da Câmara Municipal, José Luiz Araújo. Embora também apareça como investigado no processo, ele não foi afastado judicialmente do cargo, o que permitiu sua ascensão temporária ao comando do Executivo municipal.
