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Divulgada às vésperas de uma cirurgia considerada delicada, a carta deixada por Jair Bolsonaro teve impacto imediato no cenário político e provocou reações divergentes entre aliados. Segundo interlocutores próximos, o ex-presidente decidiu escrever o texto ciente dos riscos do procedimento, como forma de deixar registrado seu posicionamento político e sua vontade quanto ao futuro do grupo que lidera.

O documento, curto e escrito à mão, foi interpretado como um gesto de apoio explícito ao senador Flávio Bolsonaro, apontado por muitos como o herdeiro político do bolsonarismo. Embora o conteúdo não anuncie formalmente uma candidatura, a leitura predominante nos bastidores foi a de que Bolsonaro decidiu “cravar” um nome para o futuro do seu campo político, transformando a carta em uma espécie de registro de legado.

Confira carta na íntegra

Carta aos brasileiros

Ao longo da minha vida tenho enfrentado duras batalhas, pagando um preço alto com a minha saúde e minha família, para defender aquilo que acredito ser o melhor para o nosso Brasil.

Diante desse cenário de injustiça, e com o compromisso de não permitir que a vontade popular seja silenciada, tomo a decisão de indicar Flávio Bolsonaro como pré-candidato à Presidência da República em 2026.

Entrego o que há de mais importante na vida de um pai: o próprio filho, para a missão de resgatar o nosso Brasil. Trata-se de uma decisão consciente, legítima e amparada no desejo de preservar a representação daqueles que confiaram em mim.

Ele é a continuidade do caminho da prosperidade que iniciei bem antes de ser presidente, pois acredito que precisamos retomar a responsabilidade de conduzir o Brasil com justiça, firmeza e lealdade aos anseios do povo brasileiro.

Que Deus o abençoe e o capacite na liderança dessa corrente de milhões de brasileiros que honram a Deus, a pátria, a família e a liberdade.

Brasília, 25 de dezembro de 2025
Jair Messias Bolsonaro

Movimento mal calculado

Foi justamente a forma como esse registro veio a público que passou a ser alvo de críticas internas. Segundo bastidores da política, aliados avaliam que a carta só deveria ter sido lida em caso de uma intercorrência grave ou de uma complicação mais séria durante a cirurgia, funcionando como uma manifestação extrema de vontade do ex-presidente. No entanto, Flávio Bolsonaro teria optado por antecipar a divulgação, descendo até a área externa do hospital e convocando a imprensa antes mesmo do início do procedimento cirúrgico, o que foi interpretado por parte do entorno como um gesto de ansiedade política — e, para alguns, até de egoísmo.

A reação, a partir daí, não foi de unidade. Parte do entorno do ex-presidente avaliou que o movimento foi precipitado e mal calculado. O principal desconforto surgiu entre interlocutores ligados ao Centrão, que defendem uma construção mais ampla e negociada para 2026. Para esse grupo, a sinalização antecipada reduz margem de diálogo e dificulta a costura de alianças, especialmente com partidos que priorizam viabilidade eleitoral e capacidade de articulação.

Nos bastidores do bolsonarismo, a carta acabou expondo tensões internas que vinham sendo administradas de forma silenciosa. Há quem veja no episódio um ato compreensível de um pai diante de um momento de incerteza pessoal. Outros, porém, entendem que a divulgação misturou emoção com estratégia e abriu fissuras desnecessárias em um campo que ainda tenta se reorganizar após a saída do poder.

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