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Brasil sobe do patamar de republiqueta
Lula não tem superpoderes. Se tinha, está fragilizado por uma kryptonita. E essa kryptonita, para o bem de todos e felicidade geral da nação, atende pelo nome de separação dos poderes.
Nas crises mais graves deste ano, essa independência dos poderes ficou explícita. O Brasil emitiu sinais, nessas crises, de ter não só ter superado o complexo de vira-latas mas também de ter subido do patamar de republiqueta das bananas.
Nunca antes na história deste país, as instituições tinham ficado tão claramente acima dos governantes.
Vamos às crises.
Em julho, Donald Trump, do alto da sua prepotência, anunciou um tarifaço sobre as importações de produtos brasileiros: 50%.
Um dos motivos alegados foi o processo por tentativa de golpe que ameaçava de prisão o ex-presidente Jair Bolsonaro e sua corte de generais de pijama. “Caça às bruxas”, Trump lacrou.
Houve choro e ranger de dentes na maioria dos setores produtivos brasileiros. O apocalipse foi pintado no horizonte. Desemprego em massa, caos social, quebradeira empresarial, falência do agronegócio. Houve também quem celebrasse: Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo, lá nos Estados Unidos, tiveram seus 15 minutos de glória. Teriam influenciado Trump. O governador de São Paulo esqueceu que os empresários paulistas seriam duramente atingidos e posou para fotos com o boné vermelho do MAGA – Make America Great Again.
Depois da tempestade se percebe a lambança. Trump voltou atrás em boa parte das tarifas, muito mais por causa da inflação lá nos States do que pela química que ele disse ter rolado com Lula. O Brasil procurou outros mercados para os produtos sobretaxados.
E o que se evidenciou mais que tudo, o que ficou totalmente translúcido nessa crise? É que a possibilidade de Lula – ou qualquer outro presidente da República – interferir numa decisão do Supremo, ou de outra instância do judiciário, é exatamente igual a ZERO. Bolsonaro e seus generais engoliram a condenação à prisão temperada com o tarifaço do Trump .
Neste final de ano a crise é outra. O Senado faz beicinho, bate o pé e não aceita a indicação de Jorge Messias para ministro do Supremo. Ameaça rejeitar o nome indicado pelo presidente da República, coisa que não aconteceu nenhuma vez nos últimos 131 anos. E por que não aconteceu? Porque a prerrogativa da indicação é do presidente da República, não do presidente do Senado. Está escrito na Constituição.
E o que Alcolumbre e os senadores querem? Que Lula tire do pescoço de mais de 80 deputados e senadores a espada da investigação dos desvios de dinheiro das emendas parlamentares, cruzada do ministro Flávio Dino, do Supremo. Que converse com a Polícia Federal pra dar uma passada de pano na participação dos colarinhos brancos do Congresso nos escândalos do INSS e do Banco Master.
A chance disso acontecer é zero de novo. Lula não tem esse superpoder. A separação de poderes veio para ficar.
