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O chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, provocou desconforto no Brasil após declarar que jornalistas que o acompanharam na Cúpula de Líderes da COP 30, em Belém, ficaram “aliviados” ao retornar para a Alemanha. A fala ocorreu durante um encontro com representantes do setor varejista alemão, na semana passada, e foi registrada pela emissora Deutsche Welle.
A fala que gerou reação
Em seu discurso na Alemanha, Merz relatou que, ao final da agenda em Belém, perguntou a um grupo de jornalistas quem gostaria de permanecer no Brasil após o evento. Segundo ele, ninguém levantou a mão. Em tom leve, mas que repercutiu negativamente, o chanceler afirmou que todos “ficaram contentes por termos voltado para a Alemanha — especialmente daquele lugar onde estávamos”, numa referência direta à capital paraense.
O comentário viralizou rapidamente e foi interpretado no Brasil como desdém à cidade que sediará a COP 30 no ano que vem. A forma como Merz usou Belém para valorizar a Alemanha perante o público alemão ampliou a sensação de falta de sensibilidade diplomática.
Contexto de pressão sobre Belém
As críticas ocorrem num momento sensível. Meses antes da Cúpula de Líderes, ao menos 25 países enviaram comunicados ao governo brasileiro reclamando de preços elevados de hospedagem, falta de infraestrutura hoteleira e dificuldades logísticas para a COP 30. Algumas delegações chegaram a sugerir mudanças parciais na sede caso os problemas não fossem resolvidos.
Belém passa por uma série de obras e ajustes para receber a conferência, mas o episódio reforçou críticas internacionais já existentes sobre a capacidade da cidade de acomodar um evento desse porte.
Quem é Friedrich Merz
Friedrich Merz é líder da União Democrata-Cristã (CDU) e assumiu o cargo de chanceler em 2025. Com perfil conservador e liberal na economia, ele é conhecido por discursos diretos e por falar de forma franca com o eleitorado. Frequentemente exalta a estabilidade e o padrão de vida da Alemanha, o que explica o tom utilizado ao relatar a viagem ao Brasil.
Como chefe de governo, Merz representa oficialmente a posição alemã em negociações internacionais e tem peso político significativo. Por isso, seus comentários repercutiram de forma imediata e geraram críticas tanto pela forma quanto pelo momento.
Encontro com Lula e o apoio sem números ao fundo florestal
Durante a Cúpula de Líderes, Merz se reuniu com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e declarou apoio ao Fundo Florestas para Sempre (TFFF), mecanismo proposto pelo Brasil para financiar ações de preservação das florestas tropicais. Apesar da sinalização positiva, o chanceler não anunciou valores nem fez qualquer compromisso concreto em nome da Alemanha.
A ausência de números foi registrada por veículos internacionais e por analistas ambientais, que destacaram que Berlim apoiou a ideia, mas saiu de Belém sem apresentar uma contribuição definida. A indefinição reforçou o entendimento de que o discurso foi cordial, mas o compromisso alemão ainda não está fechado.
O que é o Fundo Florestas para Sempre (TFFF)
O Fundo Florestas para Sempre — Tropical Forests Forever Facility (TFFF) — é a proposta central do Brasil para criar um mecanismo global, permanente e financeiramente robusto de preservação. A iniciativa funciona como um grande fundo patrimonial internacional, com meta próxima de US$ 125 bilhões.
O modelo prevê que:
o capital principal permanece investido em títulos no mercado global;
apenas os rendimentos anuais são usados para remunerar países que mantiverem suas florestas preservadas e com desmatamento baixo.
A ideia é criar uma fonte contínua de financiamento para florestas tropicais, reduzindo a dependência de doações eventuais e tornando o combate ao desmatamento sustentável no longo prazo.
