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De brigas à conexão: Dicas de uma Advogada, Sexóloga e Analista Comportamental que já ajudou milhares de casais a resgatar a harmonia, a intimidade e a paixão no casamento.
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Em um mundo cada vez mais acelerado e com crises constantes – sejam elas globais, econômicas ou pessoais –, a incerteza tornou-se uma companheira quase onipresente. É nesse terreno movediço que uma curiosa e comum dinâmica afetiva se manifesta: a súbita e irresistível vontade de revisitar amores do passado, quem nunca se viu nessa situação, né?! Mas o que explica essa busca por um porto seguro em relações que, por algum motivo, já ficaram para trás? A psicanálise oferece pistas valiosas para decifrar essa complexa necessidade humana.

O Passado Como Zona de Conforto: Uma Perspectiva Psicanalítica

A psicanálise nos ensina que a mente humana, em sua busca incessante por estabilidade e prazer, tende a se proteger de ameaças e angústias. O momento de incerteza atua como um potente catalisador de ansiedade, ativando mecanismos de defesa psíquicos. Nesse cenário, o “ex” não é buscado necessariamente pela pessoa que ele é hoje, mas sim por aquilo que ele representa em nosso inconsciente:

  1. A Nostalgia da “Completude” e a Ilusão do Já Conhecido

Um relacionamento passado, mesmo que tenha terminado de forma dolorosa, carrega consigo o peso da familiaridade. Freud já apontava para a tendência à repetição de padrões, mesmo que sejam geradores de sofrimento, pois o conhecido, ainda que ruim, é menos assustador que o desconhecido.

O passado oferece um script de relacionamento já escrito. Não há a fase de apresentações e descobertas cheias de insegurança; já se sabe como o outro beija, briga, dorme e o que o faz rir. Em um período em que o futuro é nebuloso, essa previsibilidade funciona como um poderoso anestésico contra a ansiedade. É o retorno ao útero simbólico do afeto já vivido.

  1. O Ideal Romântico e a Fantasia da Perfeição Perdida

Em crises, a mente tende a idealizar o que foi perdido. O inconsciente, ao se deparar com o desamparo da realidade atual, projeta no passado a imagem de um amor que poderia ter sido “perfeito”. Na terapia de casais, essa idealização é frequentemente desconstruída: o casal em crise, ao revisitar o momento da paixão, reconhece a fantasia de completude que existia, a crença de que o parceiro preencheria todas as lacunas emocionais.

No entanto, ao enfrentar uma crise externa (como a perda de emprego ou uma mudança radical na vida), o indivíduo solitário ou em um relacionamento insatisfatório pode resgatar a lembrança de um ex como a metade idealizada que, à época, parecia resolver a angústia da incompletude.

Terapia de Casais: Quando a Crise do Presente Abre a Porta do Passado

Para quem já está em um relacionamento, a busca por um amor anterior pode ser um sintoma de uma crise conjugal não resolvida, potencializada pela incerteza.

  1. Fuga da Realidade Conjugal

A terapia de casais lida com o “terceiro psíquico”, a dinâmica que se forma entre os dois parceiros. Quando essa dinâmica está em sofrimento — marcada por conflitos não mediados, desinvestimento mútuo ou falta de diálogo —, a incerteza externa (seja ela financeira ou social) pode se somar à incerteza interna sobre a longevidade do vínculo.

Nesse contexto, a busca por um ex é, muitas vezes, uma fuga. É a tentativa de evitar o trabalho árduo e doloroso de enfrentar as diferenças e os problemas do relacionamento atual. O parceiro do passado surge como uma alternativa mágica, uma saída fácil para o labirinto do presente.

  1. A Necessidade de Validação e Autoestima

Momentos de crise geram uma queda na autoestima e uma profunda sensação de insegurança. Um ex, especialmente um que demonstrou paixão ou afeto intenso, pode ser procurado como uma fonte rápida de validação. Receber atenção de alguém que já nos amou incondicionalmente (ou assim se lembra) pode ser um bálsamo para o ego ferido pela vida ou pelo parceiro atual. A pessoa busca, no espelho do passado, a imagem de quem era antes da crise, ou de quem se sentia mais amada e segura.

Navegando na Incerteza Sem Naufragar no Passado

Buscar conforto em um “porto seguro” afetivo é humano, mas a base psicanalista nos alerta: o passado é, por definição, um lugar que já não existe. As pessoas mudaram. As circunstâncias que levaram ao término persistem.

A chave para não sucumbir a essa tentação reside em redirecionar essa energia:

  • Reconheça a Busca pela Estabilidade: Entenda que sua mente está buscando segurança. O problema não é a incerteza, mas sim o seu medo
  • Desidealize: Faça um exercício de memória honesto. Lembre-se não apenas dos bons momentos, mas dos motivos reais que levaram ao fim da relação. Um amor do passado é mais uma lembrança confortável do que uma solução real para o futuro.
  • Invista no Presente (e em Si Mesmo): Se você está solteiro, use a incerteza como motor para autoconhecimento e construção de uma vida que você ame, independentemente de um parceiro. Se está em um relacionamento, a incerteza externa é a oportunidade para fortalecer o vínculo presente, enfrentando as questões pendentes com diálogo e terapia, se necessário.

Em vez de olhar para o passado como um refúgio, a incerteza pode se tornar um convite para construir um futuro sólido e para se vincular a um parceiro que não seja um retorno, mas sim uma expansão de quem você é. Afinal, a verdadeira segurança não está no que já foi, mas na capacidade de construir e sustentar o que está por vir.

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