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O programa “Jimmy Kimmel Live!”, um dos talk shows noturnos mais populares da televisão norte-americana, foi suspenso por tempo indeterminado pela rede ABC, em meio a uma escalada de tensões políticas e pressões econômicas. A decisão veio dois dias após Kimmel fazer comentários críticos ao movimento conservador MAGA, liderado pelo presidente Donald Trump, e à reação da direita diante da morte do ativista Charlie Kirk, assassinado durante um evento universitário em Utah.
A suspensão foi precipitada por uma série de acontecimentos que levantaram preocupações sobre censura velada e interferência estatal nos meios de comunicação. Após os comentários do comediante, Brendan Carr, presidente da Comissão Federal de Comunicações (FCC), órgão regulador das comunicações nos Estados Unidos e nomeado por Trump, sugeriu que afiliadas da ABC poderiam perder suas licenças de operação caso continuassem a exibir o programa. A ameaça foi interpretada como uma forma de coerção econômica, utilizando o poder do Estado para silenciar críticas ao governo.
Duas das principais operadoras de emissoras afiliadas à ABC — Nexstar e Sinclair — têm fusões e aquisições em andamento que dependem da aprovação da FCC. Diante das declarações de Carr, ambas decidiram antecipar-se à decisão da emissora e suspender a exibição do programa em suas redes. Poucas horas depois, a ABC oficializou a retirada do ar do “Jimmy Kimmel Live!”.
A reação do presidente Trump à suspensão foi imediata. Ele celebrou a decisão nas redes sociais, afirmando que o apresentador “não tem talento” e que os baixos índices de audiência justificavam o cancelamento. Trump também apontou outros apresentadores críticos ao seu governo, como Jimmy Fallon e Seth Meyers, como os “próximos a cair”, alimentando ainda mais os temores de um ataque coordenado à liberdade de expressão.
Grupos de defesa de direitos civis e da liberdade de imprensa se manifestaram duramente contra a decisão, classificando-a como uma tentativa de controle político sobre os meios de comunicação. Organizações como a União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU) e parlamentares da oposição acusaram o governo de instrumentalizar instituições reguladoras para censurar conteúdos críticos, algo que afronta diretamente a Primeira Emenda da Constituição dos Estados Unidos, que garante a liberdade de expressão.
A trajetória de Kimmel na televisão americana é longa e consolidada. O apresentador esteve à frente do programa por mais de 20 anos e também comandou múltiplas edições da cerimônia do Oscar. Seu estilo crítico e bem-humorado, voltado à política e à cultura pop, sempre foi uma das marcas do “Jimmy Kimmel Live!”, que também se destaca pela audiência robusta, com mais de 20 milhões de inscritos no YouTube.
O episódio marca a segunda suspensão recente de um talk show crítico ao governo Trump. Em julho, a CBS anunciou o fim do “The Late Show”, de Stephen Colbert. Ambos os casos foram usados pelo presidente como exemplos de uma suposta renovação da televisão americana, agora livre, segundo ele, de apresentadores “sem talento” e com “agenda política”.
A situação também chama atenção pelo contexto em que ocorreu. O assassinato de Charlie Kirk, ativista conservador ligado ao movimento MAGA, gerou uma comoção nacional e reacendeu debates sobre violência política no país. Em seu monólogo, Kimmel apontou o esforço da base trumpista em dissociar o assassino da ideologia de direita, algo que incomodou figuras influentes do governo.
Nos bastidores, o caso revela a crescente fragilidade da independência editorial de grandes emissoras diante de ameaças regulatórias. A atuação da FCC no episódio levantou sérias dúvidas sobre a neutralidade do órgão, que deveria atuar com isenção e proteção aos princípios democráticos.
A suspensão do programa de Jimmy Kimmel acende um alerta para a liberdade de imprensa e expressão nos Estados Unidos, em um cenário onde a linha entre regulação legítima e censura política torna-se cada vez mais tênue. Ainda não há previsão de retorno do apresentador à grade da ABC.