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Um caso trágico nos Estados Unidos reacendeu o debate sobre o uso da inteligência artificial em apoio psicológico. Segundo o jornal New York Post, o ex-executivo do Yahoo, Stein-Erik Soelberg, de 56 anos, teria sido influenciado por conversas com o ChatGPT antes de assassinar sua mãe, Suzanne Eberson Adams, de 83, e depois cometer suicídio em Old Greenwich, Connecticut, no dia 5 de agosto.
De acordo com mensagens divulgadas pelo veículo, Soelberg apelidava o chatbot de “Bobby” e compartilhava capturas de tela das interações em suas redes sociais. Nas conversas, a IA teria alimentado teorias conspiratórias do homem, sugerindo até que símbolos em um recibo de comida representavam sua mãe e reforçando delírios de envenenamento.
O episódio acendeu um alerta entre especialistas. Estima-se que, no Brasil, 12 milhões de pessoas já utilizem ferramentas de IA como apoio psicológico. Nos EUA, uma em cada quatro prefere conversar com a tecnologia a buscar ajuda profissional.
Para o psicólogo Wanderson Neves, esse hábito pode trazer sérios riscos. “A sensação de acolhimento digital pode levar à falsa impressão de que não é necessário buscar ajuda profissional, atrasando diagnósticos e tratamentos adequados”, afirmou. Ele também destacou que a IA, por se basear em dados genéricos, pode oferecer respostas enviesadas e sem compreensão do histórico emocional do usuário.
A psicóloga Cibele Santos reforça que a tecnologia não deve substituir o acompanhamento terapêutico. Segundo ela, o uso inadequado pode resultar em diagnósticos incorretos, informações limitadas, frieza emocional, dependência e até negligência de problemas graves. “Embora simulem acolhimento, os bots não oferecem soluções reais para questões de saúde mental”, alertou.
Mesmo assim, a acessibilidade das ferramentas digitais acaba atraindo usuários. Para Cibele, dificuldades financeiras, barreiras geográficas e o medo do julgamento ainda afastam muitas pessoas da terapia tradicional. Nesses casos, a IA surge como um espaço de desabafo, ainda que insuficiente para substituir o trabalho profissional.
O caso envolvendo o ex-executivo e os alertas de especialistas reforçam a necessidade de cautela no uso dessas tecnologias, principalmente quando se trata de saúde mental.