Detida em uma penitenciária feminina em Roma, na Itália, a deputada federal licenciada Carla Zambelli (PL-SP) participou nesta quarta-feira (10), por videoconferência, de uma reunião da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados. A audiência marcou o início da análise do processo que pode confirmar a cassação do mandato da parlamentar, já condenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 10 anos de prisão pela invasão ao sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Durante a sessão, Zambelli e o hacker Walter Delgatti — também condenado no mesmo processo — trocaram acusações. Delgatti, falando de uma sala do presídio de Tremembé (SP), reiterou que a deputada teria comandado diretamente os crimes e o hospedado em sua casa, em Brasília. Já Zambelli rebateu, afirmando que o hacker mente e chegou a questionar sua sanidade mental, chamando-o de “mitomaníaco”.

“O senhor não está sabendo do que está falando. Você acha que sabe do que está falando, Walter, mas sempre se coloca como dono da verdade. Você é um mitomaníaco”, disse a parlamentar, alegando que todo o processo estaria baseado em uma escolha de credibilidade: acreditar nela ou em Delgatti.

A deputada também acusou o hacker de manipular a narrativa ao afirmar que ela teria determinado a inclusão de mandados de prisão falsos no sistema do CNJ. Segundo Zambelli, a versão é “mentirosa” e não se sustenta em provas concretas.

Condenação e fuga para a Itália

Em maio, o STF confirmou a condenação de Carla Zambelli a 10 anos de prisão, em decisão definitiva (sem possibilidade de recursos). Antes da execução da pena, a parlamentar deixou o Brasil por terra rumo à Argentina e, posteriormente, seguiu para os Estados Unidos e para a Itália, onde foi incluída na lista vermelha da Interpol.

No final de julho, foi presa nos arredores de Roma. Autoridades italianas afirmam que ela foi encontrada em um apartamento e cercada pela polícia, enquanto sua defesa sustenta que a entrega foi espontânea. Atualmente, Zambelli aguarda o desfecho do processo de extradição.

Cassação em análise na Câmara

Com a condenação criminal, a Câmara dos Deputados precisa confirmar a perda do mandato. O processo começa pela CCJ e, em seguida, será levado ao plenário. Para que a cassação seja aprovada, são necessários ao menos 257 votos, o equivalente à maioria absoluta da Casa.

A deputada está licenciada do cargo por 127 dias, período que termina em 2 de outubro. O caso é considerado inédito no Congresso, já que envolve uma parlamentar condenada em última instância e foragida no exterior.