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Há uma semana, o Greenpeace Brasil — uma das maiores ONGs ambientais do mundo — publicou um post de luto pela Amazônia após o Ibama liberar a perfuração de um poço exploratório na Foz do Amazonas; a ONG citou riscos reais de destruição, ausência de consulta prévia e convocou o público à mobilização. Quatro dias depois, reforçou: entrou na Justiça pedindo a paralisação e a anulação da licença.

Enquanto isso, chama atenção o silêncio de parte dos rostos mais influentes que, em 2019, tomaram as redes com #PrayForAmazonia. Anitta é só um exemplo — a lista é longa: nomes como Leonardo DiCaprio (que anunciou US$ 5 milhões via Earth Alliance), Madonna, Camila Cabello, Ariana Grande, Cara Delevingne, J Balvin, Jennifer Lopez e Cristiano Ronaldo amplificaram a pauta na época; até a publicação deste texto, não localizamos nessas contas principais manifestação direta sobre o #AnulaJá ou menção explícita à licença de perfuração na Foz do Amazonas. O contraste com 2019 é evidente.

Quais riquezas naturais estão em risco?

Manguezais — A costa amazônica abriga a maior faixa contínua de manguezais do planeta (estimada entre 7 mil e 7,5 mil km²). São berçários de peixes e crustáceos, protegem a linha de costa e estocam carbono azul. Óleo em mangue não se limpa fácil: sufoca raízes, mata fauna e derruba a pesca artesanal.

Recifes amazônicos (GARS) — O sistema recifal da foz, descrito na literatura científica desde 2016, é um mosaico raro de esponjas, corais e bancos de rodólitos, entre ~70 e 220 m de profundidade. É subestudado; operações de petróleo no entorno elevam os riscos para um ecossistema que a ciência ainda mapeia.

Povos e territórios — O Ministério Público Federal vem cobrando revisão de estudos e consulta prévia a indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais na área de influência socioambiental. Mesmo a centenas de quilômetros da costa, correntes marinhas levam impactos para quem vive do mar.

O meio ambiente não quer saber quem é o governo, se vai dar dinheiro, se é fogo ou água… ele é ferido, e pronto.
A natureza cobra no seu próprio tempo — e quando a conta chega, chega para todos.

Em 2018, antes do boom de 2019, o alerta já estava dado

“Descobertas recentes sobre os Corais da Amazônia invalidam o estudo da Total, que quer explorar petróleo na costa Norte do Brasil. Mas a empresa insiste em seus planos.” 

Em 30 de agosto de 2018, a jornalista Thaís Herrero (Greenpeace Brasil) já questionava publicamente inconsistências da Total sobre distâncias aos bancos de rodólitos, blocos em licenciamento e a própria base do EIA. Ou seja: antes de os artistas “acordarem” para a Amazônia em 2019, a disputa científica e ambiental sobre recifes/manguezais e a Margem Equatorial já estava posta.

A desculpa de que “é pelo progresso” não cola!

Não é a primeira vez que o país debate projetos “do progresso” com alto custo socioambiental. Quando o tema foram hidrelétricas em áreas indígenas — com destaque para Belo Monte, no Xingu — houve campanha massiva de artistas, como o movimento Gota D’Água (à Secas), em vídeos no formato de “comercial” que viralizaram, somaram milhões de visualizações e pautaram o noticiário. A mensagem era clara: planejamento, consulta e respeito aos territórios não são opcionais.

Hoje, a licença do Ibama é um fato (poço exploratório no bloco FZA-M-59, Margem Equatorial) e as ações judiciais correm. O momento pede coerência: ciência escutada, povos consultados e responsabilidade pública real — inclusive de quem tem megafone. Porque, quando o óleo toca o mangue e o recife, não há hashtag que limpe.

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