Em 1993, o cinema trouxe ao mundo a cena icônica de Proposta Indecente. No filme, Demi Moore aparece deitada sobre uma cama coberta de dólares — uma imagem que atravessou décadas como símbolo da tentação e do preço das escolhas. Trinta anos depois, a ficção encontra um paralelo perturbador na vida real: a fotografia do deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Joias, deitado em meio a pilhas de cédulas de cinquenta reais.

A coincidência não para na imagem. O nome do filme também parece dialogar com a trajetória do político fluminense. Assim como no enredo em que uma proposta muda a vida dos personagens, TH Joias aceitou a sua “proposta indecente” ao cruzar a linha que separa o prestígio legítimo do poder ilícito.

Da joalheria à política

Nascido em 1988 no Morro do Fubá, Zona Norte do Rio, Thiego cresceu vendo o pai trabalhar como ourives. Desde cedo aprendeu a moldar ouro e pedras preciosas, habilidade que o levaria a construir seu próprio nome no mercado de luxo. Como TH Joias, conquistou clientes famosos: Neymar, Vinícius Júnior, Adriano Imperador, Ludmilla, MC Poze do Rodo e outros ídolos da música e do futebol. Suas criações extravagantes, algumas com mais de três quilos de ouro, o projetaram como um joalheiro das celebridades.

Ao mesmo tempo, soube cultivar a imagem de benfeitor popular. Promovia torneios de bola de gude, festas infantis e eventos esportivos em comunidades, reforçando o discurso de que o sucesso podia andar junto com a generosidade. Foi nesse terreno que surgiu sua aproximação com a política.

Em 2022, candidatou-se a deputado estadual pelo MDB e conquistou pouco mais de 15 mil votos, ficando como suplente. Dois anos depois, em 2024, assumiu o mandato na Alerj com o afastamento de colegas de partido. No plenário, chegou a presidir a Comissão de Defesa Civil e defendia projetos voltados a educação, inclusão social e empreendedorismo. Sua ascensão parecia consolidar a narrativa de “quem veio da favela e venceu”.

O “sim” à proposta

Por trás do carisma e da agenda popular, porém, crescia um outro lado. TH já havia sido condenado em 2022 por tráfico de drogas a mais de 14 anos de prisão, mas escapou da pena graças a recursos judiciais. De acordo com as investigações da Polícia Federal, ele teria se tornado peça-chave do Comando Vermelho, movimentando cerca de R$ 140 milhões entre 2021 e 2025. O esquema envolvia empresas de fachada, câmbio paralelo e doleiros.

Como a foto foi encontrada

A imagem que viralizou, em que aparece deitado sobre R$ 5 milhões em espécie, foi descoberta pela Polícia Federal durante a Operação Bandeirante, em setembro de 2025. No cumprimento de mandados de busca, agentes apreenderam celulares, HDs e registros financeiros ligados ao parlamentar. Entre os arquivos estavam fotos e vídeos usados pelo grupo como demonstração de poder.

Segundo os investigadores, a foto teria sido tirada em abril de 2024, durante uma operação de conversão de reais em dólares. Para a PF, mais do que ostentação pessoal, o registro funciona como prova material das movimentações ilícitas que conectavam o deputado diretamente ao esquema de lavagem do Comando Vermelho.

O fim da linha

A vida de TH Joias virou a tradução literal de Proposta Indecente. Assim como no filme, em que a decisão aparentemente vantajosa destrói a confiança e o amor, o “sim” do deputado para o dinheiro fácil e para a proximidade com o crime trouxe consequências irreversíveis. A cama de dinheiro, que no cinema era metáfora da tentação, no caso dele virou evidência de corrupção.

No desfecho do filme, o casal percebe que a fortuna não compensou a perda do que era essencial. Na vida real, TH Joias também descobriu que a proposta indecente que aceitou lhe custou mais do que qualquer quantia poderia pagar: sua liberdade, sua carreira e sua credibilidade.