Lara Prado, filha do fotógrafo Alex Silva, usou as redes sociais para expor sua indignação com a demissão do pai após a repercussão da imagem em que o ministro Alexandre de Moraes aparece fazendo o gesto do dedo do meio durante o clássico entre Corinthians e Palmeiras.
No vídeo, Lara recontou a dinâmica do registro e ressaltou que a decisão do jornal O Estado de S. Paulo não pode ser vista como mera coincidência. “Meu pai foi informado que o ministro estaria no camarote, fez as fotos no momento em que ele fez o gesto, e a imagem viralizou. Logo depois, a demissão. Você acredita nessa justificativa ou não?”, questionou.
O registro que virou notícia
A foto foi feita em 30 de julho de 2025, na Neo Química Arena, durante o dérbi paulista. O ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, estava em um camarote quando, por alguns segundos, fez o gesto obsceno. Alex Silva conseguiu registrar três fotogramas e enviou imediatamente ao jornal.
A imagem rapidamente ganhou repercussão nacional, estampando a capa de outros veículos, como a Folha de S. Paulo. Isso só foi possível porque o próprio Estadão vendeu a foto através de sua agência de conteúdo, lucrando diretamente com o trabalho que, poucos dias depois, levaria à demissão do autor.
O Estadão lucrou, mas demitiu
Em nota oficial, o Estadão afirmou que a saída de Alex Silva “já estava planejada” e fazia parte de uma redução de quadro por motivos administrativos, negando relação com a polêmica. O mesmo comunicado, no entanto, ressaltava que a foto foi tratada como de “relevante valor jornalístico”, publicada com destaque no site, usada em espaço nobre da edição impressa e revendida a outros veículos.
Ou seja, o jornal reconheceu a importância da imagem e ganhou dinheiro com ela, ao mesmo tempo em que dispensava o fotógrafo responsável.
Reação das entidades
A justificativa não convenceu colegas e entidades. O Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (SJSP) e a FENAJ divulgaram nota conjunta de repúdio, classificando a demissão como injustificável e alertando para riscos de pressões externas e autocensura dentro das redações. Ambos exigiram explicações claras da direção do jornal.
O que disse o fotógrafo
Alex Silva afirmou que não recebeu explicações objetivas da direção, apenas que o desligamento era um pedido do RH em razão de reestruturação interna. Em entrevistas, lamentou o pouco destaque dado à foto dentro do próprio Estadão — ela não chegou a ser capa da edição impressa — e disse que “fica um ponto de interrogação”: “Você é demitido depois que faz um belo trabalho, e o jornal te demite.”
Com mais de quatro décadas de carreira, Alex Silva, 63 anos, é um dos nomes mais respeitados do fotojornalismo brasileiro. Atuou em grandes coberturas esportivas, políticas e sociais, sempre com um olhar atento aos detalhes.
Sua última imagem no Estadão, justamente a do gesto de Moraes, tornou-se um dos registros mais comentados do ano — e, ironicamente, marcou também o fim de sua trajetória no jornal.
Nota do sindicato 👇