BARRY LYNDON: arte, técnica e a poesia do cinema de Stanley Kubrick

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Lançado em 1975, Barry Lyndon é mais do que um filme de época; é um estudo visual e narrativo sobre ambição, sorte, destino e a fragilidade humana.

Dirigido por Stanley Kubrick, a obra adapta o romance satírico The Luck of Barry Lyndon (1844), de William Makepeace Thackeray, transformando-o em um épico visual de quase três horas que une rigor técnico e sensibilidade artística.

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Kubrick se tornou lenda.

Era conhecido por sua obsessão por câmeras e lentes e por desafiar os limites da tecnologia cinematográfica, na execução de seus filmes.

Em Barry Lyndon essa magia aconteceu.

A estética de Barry Lyndon é um dos aspectos mais discutidos na história do cinema, em grande parte pelo perfeccionismo técnico de Kubrick. 

Neste artigo apresento algumas análises técnicas sobre o filme, para que o leitor possa revisitar essa Obra de Arte com um olhar mais aprofundado.

Pintura em movimento

  • Cada plano foi pensado como uma composição pictórica, evocando obras de mestres do século XVIII.

Iluminação natural

  • Kubrick buscou recriar fielmente a atmosfera visual do século XVIII, evitando o uso de spots de luz artificial.
    Em cenas internas, a iluminação foi feita quase exclusivamente por luz de velas, o que era considerado impraticável até então.

Famosa lente Carl Zeiss Planar 50mm f/0.7 (originalmente desenvolvida para a NASA)

  • Kubrick, lançou o desafio. Para filmar com luz de velas, o diretor utilizou lentes desenvolvidas originalmente para fotografar o lado oculto da Lua pela NASA.
    Essas lentes extremamente luminosas (f/0.7) permitiram captar detalhes com baixíssima luz, criando um efeito intimista e autêntico.

Composição inspirada na pintura

  • A direção de arte e fotografia, conduzida por John Alcott (vencedor do Oscar), imita a estética de pintores como Thomas Gainsborough e William Hogarth.
    Planos longos, profundidade de campo e enquadramentos estáticos reforçam a ideia de “quadros vivos”.

Narrativa e ritmo

  • Em Barry Lyndon, Kubrick rompe com convenções comerciais:
  • Ritmo contemplativo – O filme é deliberadamente lento, convidando o espectador a “entrar” na cena como se contemplasse uma pintura.
  • Uso do zoom – Lentes de zoom lento substituem cortes rápidos, criando uma sensação calma de observação distante.
  • Divisão em capítulos – Estrutura literária, reforçando o caráter de crônica histórica.

Legado e influência

  • Ganhou 4 Oscars (Fotografia, Direção de Arte, Figurino e Trilha Adaptada).
  • Hoje é considerado uma obra-prima visual, influenciando cineastas como Martin Scorsese, Terrence Malick, entre muitos outros.
  • A abordagem de iluminação natural e o rigor estético inspiraram diversas produções históricas posteriores.

Conclusão

  • Barry Lyndon é um caso raro em que técnica e arte se fundem de forma quase inseparável. Kubrick transforma uma narrativa de ascensão e queda em um retrato visualmente deslumbrante e imersivo, onde cada quadro poderia estar pendurado em um museu.        A combinação de iluminação natural, lentes raríssimas, ritmo contemplativo e precisão histórica faz dele um marco no cinema, não apenas como entretenimento, mas como um exercício de arte cinematográfica.

por:  Rodney Borges – Diretor Cinema – DoP

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