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O Brasil acaba de alcançar um marco histórico na saúde pública. A Anvisa aprovou a Butantan-DV, vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan, tornando-a a primeira vacina do mundo contra dengue com esquema de dose única. A decisão representa muito mais do que um avanço científico: abre caminho para campanhas de vacinação em massa, maior proteção da população e redução significativa de internações e mortes provocadas pela doença.
Vacinas anteriores
Até hoje, já existiam outros imunizantes contra dengue, como a Qdenga e a Dengvaxia, mas todos tinham limitações importantes. Eram aplicados em duas ou mais doses, exigiam condições específicas, e muitas vezes só podiam ser utilizados por pessoas que já tinham sido infectadas anteriormente. Isso dificultava a adesão, aumentava os custos de logística e limitava o alcance das campanhas públicas. A Butantan-DV quebra essa barreira e se apresenta como um instrumento muito mais viável para o sistema de saúde brasileiro: uma dose única, feita para proteger tanto quem já teve dengue quanto quem nunca teve contato com o vírus.
Proteção, eficácia e redução de custos
A vacina funciona com o uso de vírus vivo atenuado e oferece proteção contra os quatro sorotipos existentes da dengue (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4), o que é essencial para evitar reinfecções e, principalmente, os casos mais graves. Nos estudos clínicos nacionais, que acompanharam mais de 16 mil voluntários, os resultados demonstraram cerca de 80% de eficácia na prevenção de casos sintomáticos e mais de 90% de proteção contra internações e sinais de alarme. Esse desempenho traz esperança de que o Brasil possa, enfim, reduzir drasticamente os custos humanos e hospitalares da dengue — uma doença que ainda sobrecarrega os sistemas municipais e estaduais todos os anos.
Vacinação em massa, agora é possível
A importância dessa conquista fica ainda mais evidente quando observamos os números recentes da doença. Apenas em um ano, o Brasil registrou milhões de casos, milhares de internações e centenas de mortes, inclusive entre crianças. Os surtos vêm se repetindo ano após ano, com aumento de diagnóstico precoce, mas sem uma ferramenta de imunização realmente viável para toda a população. Agora, com uma vacina que exige apenas uma aplicação, a logística de vacinação se torna muito mais simples. Isso pode facilitar a chegada do imunizante a regiões de maior vulnerabilidade, onde o mosquito Aedes aegypti encontra ambiente propício para se multiplicar e onde os sistemas de saúde têm menos estrutura para responder aos picos da doença.
Chikungunya e zika, ainda não
É importante destacar que a vacina do Butantan é exclusiva contra a dengue. Ela não previne chikungunya nem zika, embora as três doenças sejam transmitidas pelo mesmo mosquito. Cada vírus exige um imunizante próprio, e os estudos para outras vacinas continuam em andamento. O próximo passo agora depende do Ministério da Saúde, que deverá definir a faixa etária prioritária — que deve começar entre 12 e 59 anos — e o cronograma de distribuição para estados e municípios. O Instituto Butantan já possui mais de um milhão de doses prontas e projeta ampliar a produção nacional para atender à futura demanda.
