Publicidade
Jornalismo, Engenharia e Liderança: A visão de um dos apresentadores mais experientes do rádio e TV, ex-professor universitário e ex-Presidente do Conselho do SFC. Fatos sob todas as perspectivas.
Getting your Trinity Audio player ready...

Cadê o ”imbrochável”? E aquele outro do “aquilo roxo”?

 

Talvez a pergunta do título seja cruel. Mas é inevitável. A prisão desmanchou a tal da “imbrochabilidade” e descoloriu o roxo auto-apregoado de antigos testículos presidenciais.

Dos 7 presidentes que o Brasil teve depois da redemocratização, só esses dois, Collor e Bolsonaro, estimularam o culto à própria virilidade.

Itamar, apesar de flagrado ao lado de uma modelo sem calcinha no Carnaval, nunca fez esse tipo, Fernando Henrique estereotipou o intelectual que tem diarréia depois de ousar experimentar uma buchada de bode. Lula nunca se descolou da imagem de sindicalista barbudo e que assume a própria barriga. Dilma, mulher, fica fora dessa lista. E Temer, definido como “mordomo de filme de terror” pelo falecido Antônio Carlos Magalhães, assumiu a 3 semanas dos 76 anos.   

O presidente machão não era novidade no Brasil. A primeira metade dos anos 80, teve Figueiredo. O último general da ditadura gostava de ser fotografado correndo sem camisa, de sunga e tênis, e encolhendo a barriga. “Prendo, mato, arrebento”. Prefiro o cheiro de cavalo do que o do povo”. Final triste: saiu pela porta dos fundos do palácio para não entregar a faixa para Sarney. “Me esqueçam, digam que morri, que infartei”.

Ninguém pode afirmar que a prisão represente o mesmo tipo de final triste para Bolsonaro e Collor. O primeiro tem a possibilidade de uma cada vez mais improvável anistia. Pode sair da prisão para uma vitória em eleição, como Lula. O segundo já ressuscitou eleitoralmente uma vez como senador por Alagoas para repetir as mesmas trapaças da época da Presidência. Quem sabe já tenha encomendado alguns sacrifícios ritualísticos de animais para dar uma nova virada?

O que ficou evidenciado nos dois casos é que a imagem construída de macheza, masculinidade, coragem e virilidade, não resistiu à ameaça de prisão.

No caso de Collor, que um dia antes da prisão alegava orgulhosamente saúde intacta, a coragem e o “aquilo roxo” foram substituídos pela fragilidade do transtorno bipolar e do Parkinson. As duas moléstias foram alegados pela defesa com atestados médicos para obtenção do benefício de uma prisão domiciliar na gaiola dourada de uma luxuosa cobertura em Maceíó.

No caso de Bolsonaro, a imagem do personagem “imbrochável” dá lugar à de alguém que merece prisão domiciliar humanitária pela idade avançada, pela saúde debilitada e por estar sujeito a alucinações provocadas por remédios. Alucinações que teriam levado o ex-presidente a empunhar um ferro de solda contra a tornozeleira.

Jair Bolsonaro e Fernando Collor já são 70+. Merecem mesmo, nessa condição septuagenária, tratamento humanitário. Que deveria, aliás, ser estendido a todos os presidiários brasileiros nessas mesmas condições de idade e de saúde debilitada.

Mas a trajetória deles, do poder à prisão, da pretensa virilidade à fragilidade, deve também servir de motivo de reflexão para todos aqueles, na política ou fora dela, que tentam substituir o diálogo pela ameaça, a empatia pela truculência e a democracia pelo autoritarismo.

 

 

 

 

Destaques ISN

Relacionadas

Menu