Publicidade
IA começa a decifrar emoções de animais e pode transformar bem-estar animal
Foto reprodução
Getting your Trinity Audio player ready...

Pesquisadores estão utilizando inteligência artificial para compreender melhor como os animais se sentem. Um estudo desenvolvido em Milão mostrou que sistemas de aprendizado de máquina são capazes de identificar se os sons emitidos por espécies como porcos, cabras e vacas representam emoções positivas ou negativas. O modelo analisa fatores como tom, frequência e qualidade dos chamados, encontrando padrões comuns entre diferentes animais, ainda que cada espécie apresente particularidades.

A pesquisa revelou, por exemplo, que sons negativos tendem a ser mais agudos ou médios, enquanto os positivos aparecem distribuídos de forma mais variada. Em porcos, os chamados mais agudos trazem informações relevantes; em cavalos e ovelhas, os tons médios são mais significativos. Essa descoberta abre espaço para aplicações práticas: agricultores poderiam receber alertas de estresse no gado, conservacionistas poderiam monitorar à distância populações selvagens e zoológicos teriam condições de agir com rapidez diante de sinais de mal-estar.

Outros trabalhos seguem a mesma linha em diferentes espécies. Projetos internacionais estudam as sequências de sons de baleias, que podem indicar identidade ou estado emocional. Em cães, pesquisas associam expressões faciais, vocalizações e até o movimento da cauda a diferentes estados emocionais. Uma das iniciativas mais avançadas é o desenvolvimento de coleiras inteligentes capazes de detectar sinais de convulsões em pessoas com epilepsia, a partir do comportamento de cães de assistência. Já no caso das abelhas, sistemas de visão computacional estão ajudando a decodificar em tempo real a tradicional dança em forma de oito, usada para indicar fontes de alimento.

Apesar do potencial, especialistas alertam para limitações. Reduzir comportamentos complexos a categorias simples, como feliz ou triste, pode gerar interpretações equivocadas. Um abano de cauda, por exemplo, pode sinalizar tanto alegria quanto estresse. Por isso, os modelos mais eficazes deverão integrar sons, expressões corporais e até sinais fisiológicos, como batimentos cardíacos, interpretados junto ao conhecimento humano sobre cada espécie.

Outro desafio está no impacto ambiental. O processamento intensivo de dados exige energia e pode aumentar a pegada de carbono, o que contraria os próprios objetivos de conservação.

O avanço da inteligência artificial na comunicação animal mostra que a tecnologia pode oferecer novas formas de cuidado e proteção, mas também levanta dilemas éticos. Identificar que um animal está em sofrimento cria responsabilidades sobre como agir. O futuro dessa inovação dependerá menos da capacidade das máquinas de “ouvir” e mais da disposição humana em usar esse conhecimento para o bem-estar e não para a exploração.

Destaques ISN

Relacionadas

Menu