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Quase um século separa dois crimes brutais que chocaram o litoral paulista. O assassinato de Jane Araújo Lima, de 46 anos, cujo corpo foi encontrado em uma mala no último dia 4, em Praia Grande (SP), trouxe à tona lembranças do emblemático “crime da mala”, ocorrido em 1928, em Santos. Ambos os casos têm em comum a violência extrema contra mulheres e o uso de malas para ocultar os corpos.
Jane foi morta pelo companheiro, Atílio Ferreira da Silva, de 49 anos. A mala foi descoberta por crianças em um terreno baldio no bairro Ribeirópolis. Encostado a uma parede, o objeto trazia colado um papel com a senha de abertura. No interior, os policiais militares encontraram o corpo da vítima, vestida apenas com um shorts.
A Polícia Civil prendeu Atílio após ele se apresentar ao 3º Distrito Policial de Praia Grande. Investigadores localizaram vestígios de sangue na residência do suspeito e encontraram a faca utilizada no crime escondida dentro de um tijolo na parede.
O caso ganhou repercussão imediata pela semelhança com o assassinato de Maria Féa, em 1928. Grávida de seis meses, Maria foi morta pelo companheiro, Giuseppe Pistone, após descobrir um plano de golpe. O corpo foi colocado em uma mala e levado ao Porto de Santos, onde seria embarcado no navio Massilia, rumo à Itália. A tentativa de fuga fracassou quando funcionários notaram manchas de sangue e o mau cheiro vindo da bagagem. Maria teve as pernas mutiladas para caber na mala. Pistone foi preso no navio e condenado a 31 anos de prisão, sendo libertado em 1948. Ele morreu oito anos depois.
A tragédia de Maria Féa ficou marcada na história policial e sua história virou objeto de estudo, com a mala usada no crime hoje exposta no Museu do Crime, em São Paulo. Seu túmulo, no Cemitério da Filosofia, em Santos, tornou-se ponto de peregrinação religiosa.
O novo caso reacende o debate sobre a violência contra a mulher e como, mesmo após quase um século, histórias como essa continuam se repetindo de forma brutal.