Uma megaoperação deflagrada nesta quinta-feira (28) expôs o sofisticado esquema financeiro do Primeiro Comando da Capital (PCC), que utilizava fundos de investimento e fintechs para lavar dinheiro obtido com crimes como tráfico de drogas e adulteração de combustíveis. Batizada de Carbono Oculto, a ação é conduzida pela Polícia Federal, Receita Federal e Ministério Público e atinge empresas ligadas ao setor financeiro e energético.
Segundo as investigações, o grupo deixou de pagar mais de R$ 7,6 bilhões em impostos e usava brechas regulatórias para movimentar recursos ilícitos. Pelo menos 40 fundos de investimento foram empregados para ocultar patrimônio, enquanto fintechs serviam como “bancos paralelos” do crime organizado. Uma dessas instituições movimentou sozinha mais de R$ 46 bilhões entre 2020 e 2024.
Empresas investigadas
Entre os principais alvos estão:
-
Grupo Aster/Copape: responsável por usinas, distribuidoras e postos de combustíveis, já investigado por fraudes fiscais e multas de mais de R$ 2 bilhões;
-
BK Bank: fintech fundada em 2015, usada para movimentar recursos via “contas-bolsão”, de difícil rastreabilidade;
-
Reag: gestora independente com R$ 299 bilhões em ativos, suspeita de blindar o patrimônio adquirido pelo esquema.
As autoridades identificaram que o PCC controlava a cadeia produtiva de combustíveis, desde usinas de cana-de-açúcar até postos de gasolina, usando “laranjas” para ocultar operações. O dinheiro lavado era aplicado em fundos multimercado e imobiliários, totalizando R$ 30 bilhões em patrimônio, além de bens como usinas, terminais portuários, fazendas, imóveis de luxo e mais de 1,6 mil caminhões.
Brechas nas fintechs
A Receita Federal destacou que o esquema explorava a ausência de obrigação das fintechs de repassar informações via sistema e-Financeira, diferentemente dos grandes bancos. Essa lacuna foi usada para esconder depósitos em espécie e grandes transações. Apenas entre 2022 e 2023, uma das fintechs investigadas recebeu mais de 10,9 mil depósitos em dinheiro, somando R$ 61 milhões.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou que, a partir desta sexta-feira (29), fintechs passarão a ser enquadradas como instituições financeiras. Com isso, terão de cumprir as mesmas exigências de reporte que os bancos tradicionais. “Essa mudança aumenta o potencial de fiscalização da Receita e fortalece a parceria com a Polícia Federal para enfrentar esquemas sofisticados de lavagem de dinheiro”, afirmou.
Atualmente, mais de 200 instituições financeiras estavam fora dessa obrigação, brecha que, segundo Haddad, será definitivamente fechada.