Pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) estudam o comportamento inédito de uma espécie rara de peixe flagrada escalando cachoeiras em Corguinho (MS). O bagre-abelha (Rhyacoglanis paranensis) surpreendeu cientistas ao ser visto subindo paredes rochosas com mais de 4 metros de altura na Cachoeira do Sossego.
O fenômeno foi registrado por policiais militares ambientais e, dias depois, confirmado em campo pelos pesquisadores. De acordo com o estudo, publicado neste mês no Journal of Fish Biology, esse é o primeiro registro conhecido de escalada e de aglomeração em massa entre peixes da família Pseudopimelodidae.
Com até 9 centímetros de comprimento, o bagre-abelha tem aparência marcante, com manchas escuras sobre o corpo claro e nas nadadeiras. Embora viva em várias regiões, a espécie é considerada rara, e sua biologia ainda é pouco compreendida. Os cientistas acreditam que a escalada esteja ligada à migração para reprodução, especialmente no início do período chuvoso.
Durante o dia, os peixes se escondem sob rochas e áreas sombreadas. Mas, à noite, o comportamento muda radicalmente: milhares deles sobem lentamente pelas pedras, formando até verdadeiras “paredes de peixes”, empilhados uns sobre os outros. Alguns indivíduos foram flagrados escalando o teto de fendas, de cabeça para baixo, e até objetos artificiais.
O estudo mostra que os bagres utilizam as nadadeiras, a cauda e movimentos laterais para se impulsionar. Eles também criam uma espécie de pressão negativa entre o corpo e a rocha, facilitando a aderência a superfícies verticais com água corrente.
A observação em campo se repetiu na Cachoeira Diamantes, em Rochedo (MS), e contou com autorização do ICMBio e do SisBio. Um dos 439 peixes foi capturado para análise detalhada. Ao todo, foram estudados 14 exemplares: quatro fêmeas adultas, cinco machos e cinco jovens.
Ainda não se sabe exatamente como ocorre a reprodução da espécie. Contudo, o conteúdo estomacal dos peixes analisados indica que eles não se alimentam durante a migração, reforçando a hipótese de que o deslocamento em massa está relacionado à desova.
A pesquisa foi liderada pela professora Manoela Marinho, do Instituto de Biociências (Inbio) da UFMS, com colaboração dos pesquisadores Eris de Paula, Francisco Severo Neto, Yasmim Santos e Heriberto Gimênes Junior. O achado reforça a importância das observações em campo para compreender o papel ecológico e as necessidades de conservação de pequenos peixes migratórios da América do Sul.