Trabalhadores da Sabesp na Baixada Santista entram em estado de greve após demissões

Em meio a uma onda de insatisfação popular com a falta de água e críticas à qualidade dos serviços de saneamento, a Sabesp demitiu

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Em meio a uma onda de insatisfação popular com a falta de água e críticas à qualidade dos serviços de saneamento, a Sabesp demitiu seis trabalhadores do setor operacional na Baixada Santista. A medida, segundo o Sindicato dos Urbanitários da Baixada Santista e do Vale do Ribeira (Sintius), configura uma demissão em massa e motivou a categoria a decretar estado de greve.

A decisão foi tomada em assembleia realizada na segunda-feira (25), na sede do sindicato, em Santos. A mobilização busca pressionar a companhia a negociar, na Justiça do Trabalho, a readmissão dos funcionários desligados. Durante as tratativas, o Sintius conseguiu junto à direção da Sabesp a suspensão de novas demissões por tempo indeterminado.

Denúncias de irregularidades

Após os desligamentos, o Sintius acionou o Ministério Público do Trabalho (MPT) para denunciar a situação e outras práticas que afetam diretamente a categoria, como a ausência de investimentos em segurança, assédio moral e ações antissindicais.

O presidente do sindicato, Tanivaldo Monteiro Dantas, afirma que os trabalhadores estão sendo coagidos a aderir a programas de demissão voluntária (PDVs), sob ameaça de dispensa arbitrária:

“Os trabalhadores estão sendo coagidos a abrir mão de seus empregos. É um assédio institucionalizado que pretende reduzir o quadro de pessoal a qualquer custo, sem se importar com a dignidade humana e com a qualidade do serviço prestado à população”, disse.

O dirigente lembra ainda que a Sabesp estaria descumprindo a Lei Estadual 17.853/2023, que garantiu 18 meses de estabilidade a todos os empregados ativos no momento da privatização, concluída em julho do ano passado.

Impacto nos serviços e terceirização

Outro efeito do processo de privatização, segundo o Sintius, é a falta de investimentos nas estações de tratamento de água (ETAs) e de esgoto (ETEs), o que coloca em risco a segurança dos trabalhadores e da população.

“Se a segurança das próprias unidades está ameaçada, imaginem os riscos para os trabalhadores e para a população?”, questionou Dantas.

Além disso, empregados com experiência e qualificação têm deixado a empresa, sendo substituídos por mão de obra terceirizada, com menor preparo técnico e salários reduzidos. Para o sindicato, essa mudança já se reflete na piora do serviço:

“A imprensa regional divulga praticamente todos os dias problemas de falta de água na Baixada Santista. Privatizaram a água e o esgoto, mas quem está arcando com a conta é a população”, completou o dirigente.

Retaliação sindical

Entre os demitidos está um dirigente sindical em pleno exercício do mandato, o que o Sintius considera uma afronta à livre organização dos trabalhadores.

“A Constituição Federal e convenções internacionais asseguram a estabilidade de emprego aos dirigentes sindicais. Trata-se de uma arbitrariedade e uma clara retaliação à nossa luta em defesa dos companheiros da Sabesp”, afirmou Dantas.

Mobilização cresce

A categoria permanece mobilizada e já confirmou presença em uma manifestação marcada para 3 de setembro, em frente à unidade da Sabesp da Costa Carvalho, no bairro de Pinheiros, em São Paulo. O ato reunirá trabalhadores da capital e do interior, com apoio de centrais sindicais, em protesto contra as demissões e em defesa da qualidade do serviço de saneamento.

Situação da Sabesp após a privatização

A Sabesp foi privatizada em julho de 2024, após aprovação do governo estadual sob a gestão de Tarcísio de Freitas (Republicanos). O processo incluiu a venda de ações e a abertura de capital na Bolsa de Valores, com promessas de ampliar investimentos e melhorar a eficiência do saneamento básico.

Entretanto, sindicatos e usuários relatam aumento de tarifas, queda na qualidade do atendimento e falta de investimentos em infraestrutura. Na Baixada Santista, as interrupções no fornecimento de água se tornaram recorrentes. Para os trabalhadores, a atual crise de demissões é reflexo direto do modelo de gestão pós-privatização.

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