A rua passou a se chamar Anísio José da Costa, angolano, quilombola que viveu até os 110 anos.

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Uma travessa escondida nos fundos do Museu Pelé, no Centro de Santos, teve o nome alterado oficialmente pela Prefeitura. O trecho, que liga as ruas do Comércio e Tuyuti, deixou de homenagear Comendador Netto, dono de 217 escravizados e envolvido no tráfico de africanos, e passou a carregar o nome de Anísio José da Costa, angolano, quilombola e trabalhador portuário que viveu até os 110 anos.
A mudança foi sancionada pelo prefeito Rogério Santos (Republicanos) e publicada como Lei 4.543. A proposta partiu da vereadora Débora Camilo (PSOL), que participou, no último domingo (13), da cerimônia simbólica de troca da placa da via. Moradores, ativistas e representantes de coletivos ligados à cultura negra estiveram presentes.
O novo nome da travessa vem acompanhado de uma breve descrição na placa: “Anísio José da Costa – angolano, quilombola e trabalhador do Porto de Santos”. Uma tentativa de romper com o apagamento histórico da população negra, especialmente no Centro da cidade, onde nomes de antigos senhores de escravizados ainda ocupam o espaço público.
Anísio fugiu do cativeiro e viveu no Quilombo do Jabaquara até a abolição. Tornou-se ensacador no Porto de Santos e trabalhou até os 108 anos. Segundo reportagem do jornal A Tribuna de 1940, formou família aos 90, teve sete filhos e morreu aos 110 anos. Uma de suas filhas, Helena — a “tia Lena” — completou 100 anos no mês passado. Ela ainda mora na mesma casa onde o pai viveu, no bairro do Embaré.
Durante a cerimônia, Helena e sua trajetória também foram homenageadas. A atividade contou com presença de integrantes da Quilombagem Literária, da Velha Guarda da X-9 (campeã do Carnaval 2025) e de coletivos como o Comitê Chaguinhas. O evento foi organizado com apoio da Coordenadoria de Promoção à Igualdade Racial, do Conselho da Comunidade Negra e da Secretaria da Mulher, Cidadania, Diversidade e Direitos Humanos.
“A proposta é parte de uma reparação histórica”, disse a vereadora Débora Camilo. “Anísio representa todos aqueles que foram sequestrados, escravizados e ainda assim conseguiram construir uma vida de resistência. É dever do poder público reconhecer essas histórias.”
Ela lembrou que Santos foi palco de movimentos de libertação como o Quilombo do Jabaquara, e que a cidade ainda carrega os nomes de figuras ligadas ao regime escravocrata. “Não dá mais para conviver com homenagens a quem lucrava com a dor. Precisamos resgatar a memória de quem resistiu.”
A Prefeitura de Santos foi procurada para comentar se outras mudanças em nomes de ruas estão previstas, mas não respondeu até a publicação desta reportagem.
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