Delator narra reunião sobre estado de sítio, minuta do golpe, busca de fundos e estrutura militar; diz ter sido ameaçado por falta de empenho investigativo

Reprodução/STF
O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, prestou depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta segunda-feira (9), defendendo a voluntariedade de sua delação premiada e relatando pontos centrais da investigação sobre a trama golpista.
Cid afirmou que se sentiu “frustrado” com a linha investigativa da Polícia Federal após suas primeiras declarações, lamentando falta de aprofundamento em temas fundamentais de sua colaboração. Ele negou ter sido coagido — seja pela PF ou por agentes do STF — e ressaltou que a adesão ao acordo foi tomada em conjunto com seus advogados e familiares.
Minuta do golpe e reunião na Biblioteca do Alvorada
O militar declarou que Bolsonaro chegou a abordar a possibilidade de instaurar estado de sítio ou estado de defesa. Segundo Cid, essa ação foi discutida inicialmente em reunião ocorrida em 12 de novembro de 2022, na casa de Walter Braga Netto, com participação da cúpula militar — Exército questionado, mas Marinha aparentemente favorável.
Cid também afirmou que uma “minuta do golpe” foi levada ao Palácio e debatida com altos oficiais, quando “o presidente ainda mantinha acesa a esperança de que pudesse acontecer algo”. Esses encontros teriam ocorrido, inclusive, na Biblioteca do Alvorada.
Segundo o delator, Jair Bolsonaro teria lido a minuta e promovido alterações no texto original, retirando diversas propostas, mas mantendo o item que determinava a prisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF.
Pressões e reações internas nas Forças Armadas
Ele relatou ainda que Bolsonaro sofria pressões para decretar o estado de sítio e convocar as Forças Armadas para intervir no país. O comandante do Exército teria ficado “muito chateado” com o comandante da Marinha e os demais líderes militares divergiram sobre o plano, o que demonstra divisão interna.
Financiamento de acampamentos e “Punhal Verde e Amarelo”
Cid detalhou ofertas de financiamento para apoio logístico às ações golpistas. Citou um major que teria solicitado R$ 100 mil e afirmou que Braga Netto teria conseguido liberar verba para manter acampamentos pró‑Bolsonaro. O delator também mencionou ter participado do planejamento da operação batizada de “Punhal Verde e Amarelo”, segundo a Polícia Federal.
Este compromisso financeiro também aparece em áudios da “Operação Contragolpe”, que mostram planejamento de estratégias violentas, incluindo tentativas de assassinato de autoridades, conforme relatório da PF.