Eike Batista tenta voltar ao mercado com “supercana”, mas enfrenta resistência

Essa tentativa o setor já tentou em um passado, porém, abandonou.

IMAGENS DA INTERNET

Depois de anos longe dos holofotes e com uma ficha marcada por prisões, investigações e promessas não cumpridas, Eike Batista voltou a se promover nas redes sociais. Em fevereiro, o empresário anunciou ter garantido um investimento de US$ 500 milhões (cerca de R$ 2,95 bilhões) para explorar uma nova variedade de cana-de-açúcar como base para combustível de aviação e embalagens sustentáveis. O anúncio foi feito com direito a post bilíngue e citação a Elon Musk: “Hey @elonmusk, remember Rio ’08? Let’s talk supercana and X!”.

A aposta agora é na chamada “supercana”, que, segundo ele, produz de duas a três vezes mais etanol por hectare do que a cana convencional, e gera até 12 vezes mais bagaço — esse último utilizado como matéria-prima para embalagens e para o chamado SAF, o combustível sustentável de aviação. Mas a reação do mercado foi imediata: ceticismo. Eike respondeu como sempre fez: com provocações. “Nossa, como gosto de haters!!!”, escreveu.

O empresário afirma que, desta vez, não está sozinho. A nova empreitada é baseada nas pesquisas do agrônomo Sizuo Matsuoka, referência no melhoramento genético da cana-de-açúcar, e que já trabalhou em projetos semelhantes na extinta CanaVialis, da Votorantim. Mas esse histórico, longe de reforçar a confiança, reabre uma ferida no setor: a maior parte das iniciativas voltadas à chamada “cana-energia” acabou abandonada por falta de viabilidade econômica.

A Vignis, empresa fundada por Matsuoka e que Eike passou a apoiar a partir de 2015, chegou a entrar em recuperação judicial dois anos depois. Para o empresário, o fracasso foi um efeito colateral da derrocada da Odebrecht, então uma das principais clientes da Vignis. Ele garante que o projeto seguiu vivo graças à insistência do agrônomo, que desenvolveu 17 novas variedades de cana por cruzamento tradicional de plantas.

Apesar disso, os principais centros de pesquisa do setor, como o CTC e a Embrapa, já não apostam mais na cana voltada à geração de biomassa. A justificativa vai desde o baixo poder calorífico do bagaço até a dificuldade de processar a planta nas máquinas convencionais. Empresas como a GranBio tentaram seguir esse caminho nos últimos anos, mas também acabaram mudando de rota.

Eike, por sua vez, diz que está olhando para um outro tipo de aproveitamento. Segundo ele, o foco não é mais queimar o bagaço, e sim transformá-lo em produtos de alto valor agregado, como plástico biodegradável e combustível para aviões. O empresário afirma ainda que novas máquinas serão desenvolvidas para dar conta do processamento da cana mais fibrosa.

O projeto-piloto já teria começado em Araras, no interior de São Paulo, e a previsão é de que 50 hectares comecem a ser cultivados no norte do Estado do Rio ainda este ano, com três fábricas em construção próximas ao Porto do Açu. A produção de embalagens começaria em 2026, e o SAF, em 2028. A meta é chegar a 70 mil hectares plantados até 2031.

Eike diz que tem sido procurado por cooperativas e que acredita no potencial de transformar o mercado. “Tem gente que vai pesquisar mais, vai querer ver, e todo mundo vai falar: ‘Não, a supercana do Eike que vai virar tudo de cabeça para baixo’. E a gente não está aqui para ficar divulgando o quê, uma mentira?”, desafia.

Siga o perfil @isnonline no Instagram e acompanhe as últimas notícias no ISN Online.

Compartilhe:
Publicidade

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *