Frango de laboratório, japoneses avançam na corrida por carne artificial

Avanço pode permitir produção de cortes inteiros e reduzir impacto ambiental da pecuária

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Pesquisadores da Universidade de Tóquio anunciaram a criação de um “nugget” de frango totalmente cultivado em laboratório, com 7 centímetros de comprimento e 11 gramas de peso. É a primeira vez que se produz um pedaço inteiro de carne, sem a necessidade de reunir fragmentos menores. O experimento foi publicado na revista Trends in Biotechnology e repercutiu também na Nature.

O responsável pelo avanço é o engenheiro de sistemas biohíbridos Shoji Takeuchi. Ele desenvolveu um biorreator capaz de manter células musculares vivas por mais tempo, alimentando-as com oxigênio e nutrientes através de fibras finas e semipermeáveis. A técnica permite o cultivo de tecidos mais espessos — um dos principais obstáculos para a produção de carne em laboratório até agora.

Ao todo, o frango sintético criado em Tóquio contém mais de mil fibras ocas, segundo o artigo científico. Isso garante uma estrutura mais parecida com a carne convencional e pode facilitar a produção de cortes inteiros, não apenas versões moídas ou desfiadas, como ocorre hoje.

Na Califórnia, por exemplo, empresas já produzem frango cultivado, mas o produto final se resume a carne desfiada, sem a aparência ou textura de um pedaço real. O avanço japonês é considerado um marco na corrida por alimentos artificiais com potencial para abastecer populações em situação de fome extrema ou sem acesso a proteínas animais.

A proposta também surge como alternativa ecológica. No Brasil, dados oficiais apontam que a pecuária bovina emite mais que o dobro do limite de gases de efeito estufa estipulado por acordos ambientais internacionais. Substituir parte dessa demanda por carne de laboratório poderia ajudar a conter o avanço das emissões.

A equipe japonesa defende que a nova tecnologia pode ser aplicada à produção de outras proteínas, como carne bovina, suína e até peixe. “O biorreator abre caminho para uma nova forma de cultivo de carne”, afirmou Takeuchi.

Ainda não há previsão para comercialização em larga escala, mas o experimento coloca pressão sobre indústrias tradicionais e países que insistem em subsídios à agropecuária convencional, mesmo diante do agravamento da crise climática.

A reportagem tentou contato com o Ministério da Agricultura do Japão para comentar os próximos passos da pesquisa, mas não obteve retorno até a publicação deste texto.

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