Superferiado se deve à natureza móvel da Páscoa.

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O calendário de 2025 presenteou os brasileiros com um “superferiado” de quatro dias consecutivos. A coincidência entre o domingo de Páscoa (20 de abril) e o feriado de Tiradentes (21 de abril) resultou em um raro período prolongado de descanso para trabalhadores e estudantes. O “feriadão” teve início na Sexta-feira Santa (18), oferecendo uma pausa estendida para milhões de pessoas, algo que não é comum devido à natureza móvel da Páscoa.
Este tipo de feriado prolongado, que combina a Páscoa com Tiradentes, é uma ocorrência rara. Segundo levantamento da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), essa coincidência só aconteceu em duas ocasiões nas últimas duas décadas: em 2003 e 2014. A próxima chance de uma combinação similar só deverá ocorrer em 2087, de acordo com as projeções.
A explicação para essa coincidência está no cálculo eclesiástico, um método matemático adotado no Concílio de Niceia, em 325 d.C., que determina a data da Páscoa. A regra estabelece que a celebração deve ocorrer no primeiro domingo após a primeira lua cheia que acontece depois do equinócio de outono no hemisfério sul (ou da primavera no hemisfério norte). Como resultado, a data da Páscoa pode variar entre os dias 22 de março e 25 de abril.
Além disso, a Páscoa tem influência direta na definição de outros feriados religiosos e civis. O Carnaval, por exemplo, é sempre celebrado 47 dias antes da Páscoa, enquanto Corpus Christi ocorre 60 dias depois. Com isso, esses feriados também se deslocam a cada ano, dentro de faixas determinadas: o Carnaval pode acontecer entre os dias 4 de fevereiro e 9 de março, e Corpus Christi entre 21 de maio e 24 de junho.
A combinação do feriado de Páscoa com o de Tiradentes, em 2025, proporciona aos brasileiros um período raro de descanso. A coincidência oferece uma oportunidade única para viagens, lazer e convivência familiar, mas também destaca a complexidade do sistema de cálculo que define as datas dos feriados móveis.
Apesar da existência de outros feriados prolongados ao longo do ano, como o do Dia do Trabalho (1º de maio), a combinação entre Páscoa e Tiradentes se torna um evento destacado no calendário, justamente pela sua raridade. A coincidência desses dois feriados em um único fim de semana só ocorre em intervalos de tempo longos, o que torna essa oportunidade ainda mais especial.
Essa raridade tem sido celebrada nas redes sociais, com muitos brasileiros aproveitando a chance para descansar, viajar ou se reunir com a família. Especialmente nas grandes cidades, onde o ritmo acelerado do cotidiano é mais intenso, a pausa prolongada é vista como uma oportunidade de respiro e recuperação.
Para além do alívio imediato que esse “superferiado” oferece, o evento também chama a atenção para a complexidade do calendário religioso e sua influência no cotidiano dos brasileiros. Embora as datas variáveis dos feriados nem sempre sejam do conhecimento de todos, elas impactam diretamente na rotina de milhões de pessoas em todo o país.
Fato histórico
Em 2025, um fato curioso marcou o calendário religioso: pela primeira vez em muitos séculos, as Igrejas Católica e Ortodoxa celebraram a Páscoa na mesma data, 20 de abril. A coincidência é um fenômeno raro, mas que ganha uma relevância ainda maior quando se coloca em perspectiva o desejo do Papa Francisco de promover uma reconciliação entre as duas tradições. Em diversas ocasiões, o pontífice tem falado sobre a importância de um encontro ecumênico para comemorar o Concílio de Niceia e, quem sabe, estabelecer uma data unificada para a celebração da Páscoa.
Francisco, que já declarou publicamente seu desejo de ver um processo gradual de reunificação entre católicos e ortodoxos, vê esse momento como uma oportunidade para dar o primeiro passo nesse caminho. Embora ainda não haja confirmação, há especulações sobre a realização do encontro em Jerusalém ou mesmo em Niceia, cidade turca onde ocorreu o famoso concílio que definiu muitas das doutrinas centrais do cristianismo.
Essa possível unificação da data da Páscoa teria implicações profundas, não apenas para o campo religioso, mas também para a organização das datas festivas no Ocidente. Discute-se a ideia de que, se uma data fixa para a Páscoa fosse estabelecida, ela poderia cair no segundo ou terceiro domingo de abril, conforme sugerido por alguns canais católicos nos últimos meses.
A mudança na data da Páscoa traria um efeito dominó no calendário litúrgico. A fixação da data implicaria a redefinição de outras festas religiosas, como o Carnaval e o Corpus Christi. Ambos dependem da Páscoa para sua determinação: o Carnaval ocorre 47 dias antes, e o Corpus Christi, 60 dias depois. Com a fixação dessas datas, o Carnaval passaria a ser uma celebração fixa, o que impactaria diretamente o planejamento de atividades escolares, feriados e até mesmo férias.
O efeito prático dessa mudança seria imenso. A previsibilidade das datas ajudaria a estabelecer calendários escolares e civis com muito mais facilidade. A fixação de uma data para a Páscoa significaria mais organização e menos incerteza no calendário de milhões de pessoas, especialmente em um mundo onde as celebrações religiosas ainda têm grande peso nas agendas coletivas, mesmo em um cenário de crescente secularização.
Vale lembrar que a discussão sobre a data da Páscoa não é recente. Desde os primeiros séculos do cristianismo, a Igreja debateu qual seria a forma mais adequada de determinar a data da celebração. Até o final do século II, muitos cristãos celebravam a Páscoa de acordo com o calendário hebraico, que a associava à lua cheia após o equinócio da primavera no Hemisfério Norte. Essa conexão com o calendário hebraico se deve ao fato de que Jesus de Nazaré, um judeu, teria sido crucificado nesse período, conforme apontam os historiadores.
Porém, ao longo dos séculos, a Igreja Católica adotou o sistema do Cálculo Eclesiástico, baseado na lua cheia e no equinócio de primavera, que gerou o atual calendário móvel da Páscoa. Isso deu início a uma longa disputa sobre a data e levou à separação entre as Igrejas Católica e Ortodoxa, que, até hoje, comemoram a Páscoa em datas diferentes, com algumas exceções, como a de 2025.
O que está em jogo, portanto, vai além de uma simples coincidência de datas. A possibilidade de uma data fixa para a Páscoa e a reconciliação das Igrejas católica e ortodoxa representam uma mudança simbólica de grande significado. Mas, como destaca o Papa Francisco, trata-se de um processo longo e complexo, com implicações que vão muito além do simples ajuste de um feriado religioso.
Confira os próximos feriados de 2025:
– 1º de maio (quinta-feira) – Dia do Trabalho
– 19 de junho (quinta-feira) – Corpus Christi
– 7 de setembro (domingo) – Independência do Brasil
– 12 de outubro (domingo) – Nossa Senhora Aparecida
– 2 de novembro (domingo) – Finados
– 15 de novembro (sábado) – Proclamação da República
– 20 de novembro (quinta-feira) – Dia da Consciência Negra
-8 de dezembro (feriado em Salvador – Dia de Nossa Senhora da Conceição da Praia)
– 25 de dezembro (quinta-feira) – Natal
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