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O HIV ainda está entre nós: a epidemia que fingimos não ver

Com prevalência acima de 1%, Porto Alegre vive epidemia de HIV; silêncio e desinformação ameaçam avanço da prevenção no Brasil

Créditos: reprodução

Em Porto Alegre, a taxa de prevalência do HIV entre adultos de 15 a 49 anos é de 1,64%. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), qualquer índice superior a 1% já caracteriza uma epidemia generalizada. Ou seja, o Sul do Brasil já vive, oficialmente, uma epidemia de HIV. O mais alarmante é que isso não tem gerado manchetes, campanhas fortes ou mobilização nacional.

Se Porto Alegre já ultrapassou esse limite, não seria o caso de nos perguntarmos se o restante do Brasil caminha pelo mesmo caminho? Estará o Sul apenas revelando, com antecedência, aquilo que o país inteiro tenta esconder: que o HIV continua se espalhando, silenciosamente?

Perder o medo, perder a proteção

Talvez a epidemia avance porque nós perdemos o medo. A geração que cresceu vendo Cazuza lutar contra a AIDS foi bombardeada por imagens de corpos fragilizados, doentes, debilitados. Isso gerou uma mobilização massiva por proteção: usar camisinha, fazer teste, evitar riscos.

Mas também gerou um equívoco: a ideia de que é possível reconhecer uma pessoa soropositiva pela aparência. Confundiu-se AIDS com HIV. Criou-se o estereótipo de que só quem tem o corpo frágil está doente. Assim, muitos passaram a acreditar que, se o(a) parceiro(a) aparenta saúde, não há risco.

Urach, PrEP e o erro do “então eu não preciso”

Recentemente, a influenciadora Andressa Urach, ex-modelo e atriz de filmes adultos, publicou um vídeo no qual falava abertamente sobre seu tratamento com PrEP. Isso gerou uma onda de apoio e reflexão, mas também revelou um pensamento comum (e perigoso): “Se até as profissionais do sexo estão se protegendo, então eu não preciso”.

Esse raciocínio é errado e preconceituoso. Primeiro porque parte da ideia de que essas mulheres seriam as principais transmissoras do HIV (o que não é verdade). Segundo, porque induz à falsa segurança de que o risco só existe para o outro.

PEP não é desculpa para o descuido

Outro fator que tem contribuído para a sensação de “liberdade sem risco” é a existência da PEP (profilaxia pós-exposição). Como se fosse um “bote salva-vidas” contra o HIV, muita gente passa a agir com menos cuidado, confiando que, se algo der errado, é só correr para tomar os remédios.

Mas a PEP não deve ser usada como rotina, e sim em casos emergenciais. Ela precisa ser iniciada em até 72 horas após a exposição e tomada por 28 dias ininterruptos, com efeitos colaterais. O uso recorrente da PEP é sinal de que algo está falhando na prevenção.

A revolução azul que veio sem camisinha

Outro dado preocupante: entre 2015 e 2022, os casos de AIDS entre pessoas com 60 anos ou mais aumentaram mais de 20% no Brasil. E há um motivo inesperado para isso: o Viagra.

Com a popularização dos medicamentos para disfunção erétil, muitos homens retomaram a vida sexual ativa, mas sem a mesma educação para a prevenção. Muitos contraem HIV em relações fora do casamento e transmitem às esposas. O resultado é uma epidemia que cresce silenciosamente entre os mais velhos, sem que eles sequer se percebam como grupo de risco.

Todo cuidado ainda é pouco

O HIV mudou. Hoje temos PrEP, PEP, testes gratuitos, tratamento eficaz. Mas nada disso deve ser visto como permissão para agir sem responsabilidade. As novas tecnologias estão aí para nos proteger, não para nos liberar do cuidado.

E quando falamos de HIV, nem entramos ainda no tema das outras ISTs (infecções sexualmente transmissíveis), que também estão crescendo e muitas vezes são ignoradas. O HIV não é o único risco.

De que instrumentos você tem direito hoje?

O SUS oferece gratuitamente:

  • Camisinha masculina e feminina
  • Exames de testagem rápida e regular para HIV e ISTs
  • PrEP (Profilaxia Pré-Exposição)
  • PEP (Profilaxia Pós-Exposição)
  • TARV (Terapia Antirretroviral), o tratamento que torna o HIV indetectável e intransmissível
  • E sim, Viagra também está disponível para quem precisa, com receita.

Links para saber mais e acessar os serviços:

PrEP no SUS – Ministério da Saúde: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/h/hiv-e-aids/prep

PEP no SUS – Ministério da Saúde: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/h/hiv-e-aids/pep

Locais de testagem e prevenção: https://www.aids.gov.br/pt-br/onde-encontrar-servicos

Quem pode usar a PrEP?

A Profilaxia Pré-Exposição é indicada para pessoas com risco aumentado de infecção pelo HIV, como:

  • Homens que fazem sexo com homens
  • Pessoas trans (travestis e mulheres trans)
  • Profissionais do sexo
  • Pessoas com parceiros(as) soropositivos(as)
  • Pessoas que frequentemente deixam de usar preservativo nas relações.

Se você se identificou com algum desses contextos, converse com um profissional de saúde. PrEP é cuidado. PrEP é prevenção.

A epidemia ainda está entre nós. Fingir que ela passou é o primeiro passo para que ela volte com mais força. Informação e responsabilidade continuam sendo nossas maiores armas.

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