China ativa reator de tório e atinge marco histórico em energia nuclear segura e sustentável

Avanço se baseia em projeto abandonado pelos EUA e pode transformar matriz energética com menor risco e menos resíduos

Reprodução/Internet

Cientistas chineses alcançaram um feito inédito na área de energia nuclear: reabasteceram um reator experimental de tório sem desligá-lo, marcando um avanço significativo rumo a fontes de energia mais seguras e sustentáveis. O experimento utilizou um modelo de reator de sal fundido — tecnologia que havia sido abandonada pelos Estados Unidos nos anos 1950, mas que agora ganha novo protagonismo.

O projeto é liderado por Xu Hongjie, da Academia Chinesa de Ciências, que declarou que a China agora “lidera a vanguarda global da inovação nuclear”. O reator secreto entrou em operação em junho de 2024, em uma instalação localizada no deserto de Gobi, perto da fronteira com a Mongólia. A unidade já é capaz de gerar 2 megawatts (MW) de energia — o suficiente para abastecer até 2.000 residências.

Diferentemente dos reatores convencionais movidos a urânio, os reatores de tório utilizam o elemento dissolvido em sal fundido, que atua tanto como combustível quanto como refrigerante. Essa tecnologia reduz drasticamente o risco de acidentes como os de Chernobyl ou Fukushima, pois em caso de falha, o material simplesmente se solidifica ao contato com o ar, evitando explosões nucleares. Além disso, os reatores de sal fundido produzem muito menos resíduos e podem até utilizar o lixo nuclear de usinas tradicionais como combustível.

A escolha pelo tório também tem vantagens estratégicas: é três vezes mais abundante que o urânio, mais fácil de minerar e, segundo levantamento recente, a China possui reservas suficientes para abastecer sua demanda energética por até 60 mil anos. O avanço está alinhado à meta de neutralidade de carbono até 2060, estabelecida pelo presidente Xi Jinping — ambição particularmente relevante, já que o país é responsável por cerca de 27% das emissões globais.

Xu comparou o avanço chinês a uma corrida de resistência: “No jogo nuclear, não há vitórias rápidas. É preciso ter resistência estratégica, fazer apenas uma coisa por 20 ou 30 anos”, afirmou. Ele também ironizou a decisão dos EUA de abandonar o projeto décadas atrás: “Os coelhos às vezes cometem erros ou ficam preguiçosos. É quando a tartaruga aproveita a chance”, disse, fazendo referência à fábula de Esopo.

Embora os detalhes técnicos sobre como a China resolveu os desafios da corrosão do sal fundido e da baixa radioatividade do tório não tenham sido divulgados, o feito é visto como um divisor de águas para a energia nuclear e coloca o país em vantagem na corrida por alternativas limpas e viáveis aos combustíveis fósseis.

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